quarta-feira, 6 de maio de 2009



Há muito tempo atrás, enquanto eu ia pra aula de natação, recebi uma forte bolada no rosto. Estivesse eu jogando bola, não haveria problema algum, mas não. Como vi a bola chegando, fiquei traumatizado.


O trauma funcionava assim: a cada vez que algo chegava rápido demais, como quando alguém jogava uma borracha pra eu pegar, eu me encolhia horrorizado. Na natação foi pior, me agarrei na beira e não consegui aprender muito mais.


Durante anos, não podia nem entrar na água sem tocar o fundo com os pés, ou entrava em desespero. Tratei de me curar do trauma dos objetos rápidos me obrigando a ser goleiro – e isso funcionou – mas levou muito tempo e jamais consegui gostar de futebol.


Levou toda a minha infância e parte da adolescência.


Deixei de fazer muita coisa boa porque não nadava. Pior, mesmo quando podia tocar no fundo de um rio, o rio em si me dava muito medo. Dava impressão de que algo viria me devorar. Através de muita insistência, na época do evento da bolada, eu consegui aprender movimentos básicos da natação, o que me possibilitava não morrer se tivesse de nadar dois metros. Além disso, o velho desespero irracional se apossava de mim e eu não podia mais nadar.


Este ano eu resolvi acabar com várias coisas que vêm me atrapalhando há tempos. Uma delas a falta de habilidade na água e o medo imbecil de morrer afogado quando não há problema algum.


Um amigo, Carlinhos, que me convidava há tempos para fazer vários esportes radicais me chamou pra velejar e eu disse “só depois que eu aprender a nadar”. Ele me respondeu que poderia me ensinar em sua piscina e eu terminei aceitando.


Só fiz três aulas até aqui, mas com a instrução superior do Carlinhos e a minha determinação e me tornar cada vez melhor, já estou nadando sem pranchas e quase sem medo. Nado por volta de trezentos e cinqüenta metros a cada aula, mas a meta é nadar tão bem que eu possa sobreviver a um naufrágio no Rio Negro.


Mais alto! Mais rápido! Mais forte!

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