quinta-feira, 18 de dezembro de 2008



Tenho ouvido muito Rogério Skylab. O cara já fez oito CDs e se apresentou - e se apresenta ainda - em muitos lugares. Todos os anos ele vai ao Jô Soares.

Mesmo assim, muito poucos sabem ao menos quem é. O público que freqüenta a Desciclopédia conhece ele melhor que muitos intelectuais da Wikipédia.

Entendo, claro, que por fazer um som inteligente, sem se preocupar em ser comercial, acaba se dando mal. Ele faz um som mais provocante e sujo do que o punk rock e com estilos mais variados que os estilos do Mamonas Assassinas. Ele também não tem voz para cantar, mas ele gosta, então, ele tá lá, cantando.

Outra coisa: 95% das pessoas da Terra não gostam da verdade nua e crua, preferindo uma mentira conivente. Só pessoas muito inteligentes e depravadas desejam a verdade.

Dos 5% que sobraram, talvez a metade não concorde com as opiniões pessoais do artista.

Dos 2,5% restantes, muitos não gostam do tema terror, tão presente na obra do Skylab.

Faço parte do 0,5% que realmente gosta de ouvir o homem. Pena não poder ver, porque o Rogério é um grande artista performático. Veja o clipe de Eu Tô Sempre Dopado e repare na expressão no rosto dele, mas não deixe de dar atenção na letra: o doping de que ele fala não é de droga, daí ele dizer “mesmo careta, eu to sempre dopado”!

Um artista de verdade, não os caras que só querem ganhar dinheiro, fazem música a partir das coisas que o cercam e que acontecem com ele. Na música Você Vai Continuar Fazendo Música, você sente que ele levou um esporro de todos os que o conheciam para que ele deixasse de tentar ser feliz fazendo o que gosta, para passar a ganhar dinheiro e ser como todo mundo. O tom da conversa vai mudando da incredulidade para o sarcasmo e depois para o desespero, enquanto alguém lhe grata chorando na cara algo como “Velhos e criancinhas, todos te acham maluco. E você vai continuar fazendo música?”

E a gente sabe que é uma mulher que está dizendo essas coisas pra ele. Só uma mulher pode falar assim com um homem. Só uma mulher se preocupa assim. Mais: se fosse um amigo, já teria levado porrada ou sido interrompido há tempos. Ouça que você entenderá.

E quem canta é ele, mas você vê que o evento foi entre ele e uma mulher. A mãe ou uma amiga ou amante.

Outra coisa que faz a gente se identificar com ele é o fato de que ninguém gosta de situações estressantes, mas ao mesmo tempo quer mais que todos se mexam rápido ao serem atendidos aonde quer que seja.

Por isso, você tem de aprender a se colocar no lugar do outro. Não se faz com o outro o que não se quer que te façam. Por isso ele criou Eu Fico Nervoso, para mostrar o que o deixa nervoso, mas fez tão bem feito que você sente a urgência de sair da situação e fica nervoso junto com ele.

Ele apresenta com humor nigérrimo as cenas de terror que imagina, como em Convento das Carmelitas, assim como faz música com cenas simples do cotidiano, pelas quais todos nós passamos, como estar precisando cagar já, mas muito longe de um bom e limpo banheiro, o que você confere na música Bunda Suja.

É um cara extremamente prolífico, inteligente, não gosta de mentira, é músico e faz o que gosta, custe o que custar, sem no entanto fazer mal a ninguém.

Como não gostar dele?

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