sexta-feira, 11 de abril de 2014





Faz tempo que quero fazer um quadro comparativo de perguntas respondidas por pessoas de origem, cultura e escolaridade semelhante, mas de crenças diferentes. Esse quadro nunca ficou pronto devido à diversos problemas.

O problema mais difícil, na minha cabeça, seria fazer perguntas cabíveis a pessoas de religiões tão diferentes. Quase tão difícil quanto isso seria escolher que religiões – ou não religiões – deveriam participar da pesquisa. Explico: quero comparar as respostas com minhas respostas (sou deísta) e com as respostas de um amigo ateu. Ateus e deístas são minoria no Brasil e, portanto, parcela não significativa da população, mas quero mostrar diferentes pontos de vista. Mais diferentes do que Deus existe e Deus não existe não há.

Quais, dentre as muitas religiões, deveria escolher então se não importam parcelas significativas da população? Optei por escolher religiões bem conhecidas – catolicismo, espiritismo e protestantismo – e entrevistar amigos pessoais ou conhecidos de longa data, quase todos homens entre 30 e 40 anos com ensino superior completo. Incluí “porque sim” as não religiões agnosticismo, ateísmo e deísmo. As semelhanças entre os religiosos é que todos se consideram cristãos. Todos têm, ainda, níveis culturais e acadêmicos similares.

Pedi a eles permissão para divulgar seus nomes, respostas e imagem. Pedi que suas respostas fossem o mais sucintas possível, com 200 caracteres no máximo.

Me segurei para não fazer perguntas “religiosas”. Não diretamente religiosas ao menos, pois essas perguntas que eu formulei deveriam ser respondidas à luz de suas crenças.

Isto não tinha objetivo de ser um estudo sério. É mais um exercício de filosofia com sujeitos similares em muitos aspectos, mas que variam principalmente no quesito metafísica.

Só que não: esta não foi a maior dificuldade.

A maior dificuldade foi fazer o pessoas responder às perguntas. Metade dos entrevistados jamais deram uma resposta sequer por um motivo ou outro. O mais chocante foi o caso do evangélico, meu amigo há mais de vinte anos, que chegou a me mandar uma mensagem dizendo que o Sucupiras era contra sua fé e que por isso não poderia participar. Ainda que respeitasse a minha opinião/descrença acerca da crença dele, entendia que o propósito deste blog era combater o protestantismo.

Eu fiquei meditabundo por um bom tempo. Se há uma coisa que eu detesto é ser mal compreendido... e olha que isso acontece com uma frequência assustadora. Não sabia se isso ocorre porque as pessoas tem uma tendência à ver as coisas como querem ou porque, de algum modo, estou me expressando mal.

Cheguei a conversar com outro amigo evangélico que me disse que participaria sem problemas e que entendia, pelos meus comentários no Facebook, inclusive, que eu sou contra aquele tipo de fanático ou de pastor explorador que faz com que todo evangélico seja mal visto.

Ufa! É isso aí, mano.

Claro que, como outros religiosos jamais me entregaram suas respostas acabei abandonando a empreitada, não sem ficar profundamente frustrado. Pensando em retrospecto, não sei por que pensei que seria fácil.

Isso serviu para que eu passasse a respeitar o trabalho dos jornalistas, principalmente os caras que precisa da permissão dos outros para divulgar imagem e que tem de bolar perguntas que sirvam pra alguma coisa e não meramente coisas que alimentam revistas de fofocas. Este é um país que precisa desesperadamente de biografias e que, paradoxalmente, não pode tê-las, pois os parentes dos envolvidos tem poder de veto.

Biografia só o é de fato se falar as partes boas e as ruins. Editada dessa forma, será simples elogio e não biografia.

Continuo com vontade de fazer entrevistas ou coisa assim, mas é algo que realmente dá trabalho e eu não disponho de tempo ou energia para isso. Por hora isso é só um projeto futuro que eu gostaria de dividir com vocês. Ainda tenho as respostas dos amigos ateu e agnóstico (além das minhas) e a permissão de publicar e vincular as respostas à sua imagem e nomes. Quem sabe um dia?

Um comentário:

Vinicius A. Amaral disse...

É difícil mesmo, cara. Mas é um ótimo projeto. Quem sabe com o tempo consiga que as pessoas entendam melhor o valor da pesquisa.
Realmente, deve ser um trabalho do Cão (desculpe o trocadilho)escrever biografias. O cara tem que ser um ninja, ainda mais no Brasil onde as pessoas não sabem diferenciar o público do privado.