Faz tempo que quero fazer um quadro comparativo de perguntas
respondidas por pessoas de origem, cultura e escolaridade semelhante, mas de
crenças diferentes. Esse quadro nunca ficou pronto devido à diversos problemas.
O problema mais difícil, na minha cabeça, seria fazer
perguntas cabíveis a pessoas de religiões tão diferentes. Quase tão difícil
quanto isso seria escolher que religiões – ou não religiões – deveriam
participar da pesquisa. Explico: quero comparar as respostas com minhas
respostas (sou deísta) e com as respostas de um amigo ateu. Ateus e deístas são
minoria no Brasil e, portanto, parcela não significativa da população, mas
quero mostrar diferentes pontos de vista. Mais diferentes do que Deus existe e
Deus não existe não há.
Quais, dentre as muitas religiões, deveria escolher então se
não importam parcelas significativas da população? Optei por escolher religiões
bem conhecidas – catolicismo, espiritismo e protestantismo – e entrevistar
amigos pessoais ou conhecidos de longa data, quase todos homens entre 30 e 40
anos com ensino superior completo. Incluí “porque sim” as não religiões
agnosticismo, ateísmo e deísmo. As semelhanças entre os religiosos é que todos
se consideram cristãos. Todos têm, ainda, níveis culturais e acadêmicos similares.
Pedi a eles permissão para divulgar seus nomes, respostas e
imagem. Pedi que suas respostas fossem o mais sucintas possível, com 200
caracteres no máximo.
Me segurei para não fazer perguntas “religiosas”. Não
diretamente religiosas ao menos, pois essas perguntas que eu formulei deveriam
ser respondidas à luz de suas crenças.
Isto não tinha objetivo de ser um estudo sério. É mais um
exercício de filosofia com sujeitos similares em muitos aspectos, mas que
variam principalmente no quesito metafísica.
Só que não: esta não foi a maior
dificuldade.
A maior dificuldade foi fazer o pessoas responder às
perguntas. Metade dos entrevistados jamais deram uma resposta sequer por um
motivo ou outro. O mais chocante foi o caso do evangélico, meu amigo há mais de
vinte anos, que chegou a me mandar uma mensagem dizendo que o Sucupiras era
contra sua fé e que por isso não poderia participar. Ainda que respeitasse a
minha opinião/descrença acerca da crença dele, entendia que o propósito deste
blog era combater o protestantismo.
Eu fiquei meditabundo por um bom tempo. Se há uma coisa que
eu detesto é ser mal compreendido... e olha que isso acontece com uma frequência
assustadora. Não sabia se isso ocorre porque as pessoas tem uma tendência à ver
as coisas como querem ou porque, de algum modo, estou me expressando mal.
Cheguei a conversar com outro amigo evangélico que me disse
que participaria sem problemas e que entendia, pelos meus comentários no
Facebook, inclusive, que eu sou contra aquele tipo de fanático ou de pastor
explorador que faz com que todo evangélico seja mal visto.
Ufa! É isso aí, mano.
Claro que, como outros religiosos jamais me entregaram suas
respostas acabei abandonando a empreitada, não sem ficar profundamente
frustrado. Pensando em retrospecto, não sei por que pensei que seria fácil.
Isso serviu para que eu passasse a respeitar o trabalho dos
jornalistas, principalmente os caras que precisa da permissão dos outros para
divulgar imagem e que tem de bolar perguntas que sirvam pra alguma coisa e não
meramente coisas que alimentam revistas de fofocas. Este é um país que precisa
desesperadamente de biografias e que, paradoxalmente, não pode tê-las, pois os
parentes dos envolvidos tem poder de veto.
Biografia só o é de fato se falar as partes boas e as ruins.
Editada dessa forma, será simples elogio e não biografia.
Continuo com vontade de fazer entrevistas ou coisa assim, mas
é algo que realmente dá trabalho e eu não disponho de tempo ou energia para
isso. Por hora isso é só um projeto futuro que eu gostaria de dividir com
vocês. Ainda tenho as respostas dos amigos ateu e agnóstico (além das minhas) e
a permissão de publicar e vincular as respostas à sua imagem e nomes. Quem sabe
um dia?
Um comentário:
É difícil mesmo, cara. Mas é um ótimo projeto. Quem sabe com o tempo consiga que as pessoas entendam melhor o valor da pesquisa.
Realmente, deve ser um trabalho do Cão (desculpe o trocadilho)escrever biografias. O cara tem que ser um ninja, ainda mais no Brasil onde as pessoas não sabem diferenciar o público do privado.
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