quarta-feira, 29 de maio de 2013




Hoje acordei com muita preguiça, mas sabia que seria um dia longo. Teria de ir ao trabalho, depois à Fundação Vila Olímpica pegar meus contracheques e depois ainda ao banco, fazer um troço que eu detesto, mas que era muito necessário: adiantar 50% do meu 13º salário. Além disso, iria ao médico com a esposa – o que é legal – mas que nos faria voltar realmente tarde para casa ou gastar com táxi em uma parte do percurso.

Fui ao trampo, assinei meu ponto, expliquei o que tinha de fazer e saí.

Na FVO consegui os contracheques até rápido. O pessoal de lá se acostumou a me entregar tudo junto, grampeado, de surpresa. Falei com uns poucos colegas e saí.

O ônibus também não demorou nada, ainda que não me deixasse tão perto do banco.

No banco a história foi diferente. Passei HORAS lá.

Nerd que sou, inevitavelmente ficava fazendo contas para passar o tempo. Contava o tempo médio de atendimento em 10 pessoas para calcular a que horas estaria livre, calculava o valor aproximado do dinheiro que queria pegar e outras coisas. A bateria do meu celular ameaçava cair e não dava pra jogar nele ou ouvir música.

Esperar é foda e é um troço que eu também detesto. Esperar para fazer outro empréstimo, então...

Quando chegou a minha vez demorou tanto que eu achei que iria dormir. Além disso, metade dos documentos que eu levei não eram necessários e eu estava cheio de papéis à toa. Vi a mulher anotando o valor e descobri que era menos do que eu esperava. O computador dela finalmente deu pau e ela teve de reiniciar a máquina.

O atendimento médio levava 4 minutos pelos meus cálculos. O meu levou 20!

O mais triste veio no final quando a atendente me explicou que devido à restrições no meu CPF eu não poderia ter meu 13٥ salário antes da hora, como eu precisava muito. Enquanto isso rolava um supermercado local ainda me ligou para me lembrar que havia uma dívida lá que eles queriam parcelar há meses e nunca dava.

- O senhor deseja parcelar em 5 vezes?
- Não, não vai dar. Moro alugado agora e preciso me organizar melhor.
- O quê?
- Não vai dar.
- Tudo bem, mas o senhor vai continuar recebendo nossas ligações.

Mês passado e no mês anterior eles me ligaram umas 3 vezes por semana.

A senhora do “meu” banco me disse que faria uma defesa e que acreditava poder me ajudar, mas que provavelmente só sairia depois do feriado...

Saí de lá chateado. Fui tentar falar com a minha esposa e o celular finalmente ficou sem bateria.

Fui até o ponto de ônibus pensando que com os descontos que podem rolar no final do mês a conta iria TÃO ficar negativa que eu não pegaria porra nenhuma do meu 13º salário. No ponto peguei o primeiro ônibus que passou. Ao menos os ônibus estavam cooperando. Espero que seja assim mais tarde.

Daí no ônibus lotado, sem acento pra mim, com um monte de papel na mão, com fome já que beirava a hora do almoço, subiu um cara para vender bombom. Era daqueles que gostava de contar uma história sobre o trabalho dele e comecei procurando não ouvir a lorota, mas estava sem bateria no celular e não deu pra não ouvir.

A história dele era algo mais ou menos assim:

Ele e a mulher vieram do interior ou coisa parecida para o CECOM, pois essa senhora estava com câncer nas mamas. Não teve jeito e ela precisou retirar as mamas cirurgicamente. Desempregados, conseguiram um lugar pago pelo CECOM, um abrigo, onde a mulher dele repousa. Ele tem, além de lugar para dormir, três refeições diárias, mas a esposa precisa comer uma comida melhor que o CECOM não banca. Coisas lights, como salada e frango grelhado. Ele então saiu para trabalhar, mas não conseguiu nada e a mulher precisava comer. Resolveu então comprar bonbons (tipo balas) a R$ 0,10 e revender a R$ 0,15. Lucro de 50%, o que é bom, mas ainda assim mal pagaria o almoço da sua esposa, que sairia por R$ 7,00.

No dia seguinte ele teria de começar praticamente do zero de novo, pois a maior parte da grana iria para as refeições da esposa e para comprar material para o trabalho.

Terminada a explicação, nos olhou e disse algo como “quem puder me ajudar, eu agradeço”.

Normalmente não ando com dinheiro no bolso, ou o dinheiro é contado, mas dessa vez eu tinha dez reais trocados. Depois de um momento de indecisão que durou algo em torno de 0,973 segundo, puxei os dez e lhe acenei. Peguei todos os bombons e ele, muito contente e humilde, me repetia que “era para comprar material para trabalhar”, que eu entendi como mais bombons. Dizia ainda que no próprio abrigo em que estava hospedado com a mulher lhe haviam roubado o que tinha conseguido para iniciar o trabalho, completando com “os caras são malvados”.

Pensei na minha própria esposa e em como ela ficaria numa situação assim, sem grana, sem casa, sem perspectivas, sem saúde e sem peitos. Eu também pensei que faria qualquer coisa para ela comer e seguir em frente. Sei também que a maior parte dos homens simplesmente sairiam de um relacionamento assim, o cara era novo ainda. Por essas e outras eu resolvi ajudar. Depois que eu ajudei, algumas outras pessoas deram algo como dois reais para ajudar, mesmo sem comer bombons porque eu pegara todos.

Agora: não sou um cara que se sente melhor quando me comparo com os menos favorecidos. Se for para ser assim você nunca cresce. Você deve antes tentar se espelhar nos caras que estão numa melhor e correr atrás. MAS... ver como o cara lá não tinha nada, exceto um amor enorme pela esposa e um olhar que mostrava que não esmoreceria me fez ver que minha situação não é ruim em absoluto. Pra mim as coisas melhoram continuamente. Se eu gostaria que as coisas acontecessem mais rápido é porque eu não sei esperar. Estou saudável e minha família também, tenho muitos amigos e gente que olha por mim, acabaram de instalar TV a cabo e Internet de banda larga em casa. Estou com a mulher que eu amo, meus pais e filhos estão todos vivos e eu estou, pouco a pouco conquistando as minhas coisas.

Bom feriado, pessoal!

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