segunda-feira, 13 de maio de 2013


Juízo Final – Parte 3 – Isolamento

Os homens os levaram para uma área de estoque de carne. A porta era de metal e a escuridão lá dentro era total. Haviam outras pessoas no DB e algumas delas não queriam que os novos ocupantes de supermercado fossem trancados. Estes foram sumariamente ignorados.

No interior do frigorífico desativado conversaram com os mais antigos prisioneiros. Lá descobriram que os seguranças chefiados pelo Gerente tomaram posse do lugar e isolaram todos os demais para ver se alguém não “virava bicho”.

- Alguém está contaminado?
- Tem um homem ali que está tossindo muito desde que chegou e passou a tossir mais com o tempo. Acho que ele está doente.

Um arrepio percorreu a espinha de Luiz, que além de tudo agora era responsável por toda uma família. As meninas se abraçavam à mãe, enquanto Dona Maria Antônia apenas o seguia murmurando algo sem parar. Antes que pudesse pensar no que aconteceria se um dos presentes se tornasse um cadáver canibal o doente se manifestou gritando com raiva.

- Estou doente sim, mas é assim todo ano! Nesta época eu sempre fico doente. É o clima. Tenho problemas respiratórios, porra!
- Ninguém falou que você vai virar zumbi. Eu disse que você está doente! Vai gritar com a puta que te pariu, caralho. Continua com essa banca e eu te encho de porrada!

Os ânimos não estavam bons e o escuro oprimia as pessoas. Quanto tempo passariam ali? O pessoal que estava antes deles já estava há um dia, mas ou menos, sem comida ou água. Só sabiam que era esse o tempo do encarceramento porque alguém ali possuía um relógio digital. O tempo passava consideravelmente mais devagar naquela situação e ter um relógio era uma maldição. Era inevitável pensar o pior e ficar remoendo maus pensamentos. Nisso Luiz percebe o que Antônia estava murmurando: era uma reza, ou melhor, uma reza emendada na outra.

“Se isso a faz sentir-se melhor, melhor pra ela”, pensou.

Algum tempo se passou e escancararam a pesada porta de metal, mas apenas para tirar as primeiras pessoas de lá. Ao homem que tossia, no entanto, ordenaram que continuasse por lá. Quando este começou a protestar lhe perguntaram bruscamente “quer água? Então cala a boca!” e lhe jogaram uma garrafa de dois litros de água mineral quente. O homem a abriu e começou a beber no ato enquanto tornavam a fechar a porta. Uma das meninas falou “tô com sede”, mas sua mãe lhe disse que ficasse quieta. As meninas começaram a chorar, primeiro uma e depois a outra, não se sabe se pela falta de água ou pela esperança que sentiram de sair daquele breu. O homem ofereceu um pouco de água, mas a mãe delas simplesmente lhe disse “não obrigado”.

- Pensa que eu estou contaminado, né?
- Penso!
- Mas não estou! Vá se foder! Agora suas filhas irão ficar com sede!
- Pelo menos não irão morrer!
- Eu queria estar com isso que você pensa que eu tenho, porque aí eu morria, voltava e matava tu e tuas filhas, idiota!
- Pessoal, vamos nos acalmar!
- Porque você acha que ele continuou preso? Eles sabem que esse daí está pra morrer!
- Eles me deixaram aqui porque são filhos da puta medrosos como você.

Mais tempo passou. Sem o homem do relógio, nem se quisessem poderiam saber há quanto tempo estavam trancados naquela masmorra improvisada. Dona Maria Antônia não parava de rezar, mas não parecia tão assustada quanto os outros. Luiz desejou ser mais religioso nesse momento, pois não tinha fé num final feliz para essa história. E se eles nunca mais abrissem a porta? Poderiam ter sido mortos lá do outro lado, ou não se importarem com o destino dos cativos. Estaria dona Antônia encomendando sua alma ao Criador?

No meio desses pensamentos terríveis o som inconfundível da tranca da porta se fez ouvir, seguido de uma intensa luz que cegou a todos.

CONTINUA SEMANA QUE VEM.

Nenhum comentário: