Juízo Final – Parte 3 –
Isolamento
Os homens os levaram para uma
área de estoque de carne. A porta era de metal e a escuridão lá dentro era
total. Haviam outras pessoas no DB e algumas delas não queriam que os novos
ocupantes de supermercado fossem trancados. Estes foram sumariamente ignorados.
No interior do frigorífico
desativado conversaram com os mais antigos prisioneiros. Lá descobriram que os
seguranças chefiados pelo Gerente tomaram posse do lugar e isolaram todos os
demais para ver se alguém não “virava bicho”.
- Alguém está contaminado?
- Tem um homem ali que está
tossindo muito desde que chegou e passou a tossir mais com o tempo. Acho que
ele está doente.
Um arrepio percorreu a espinha
de Luiz, que além de tudo agora era responsável por toda uma família. As
meninas se abraçavam à mãe, enquanto Dona Maria Antônia apenas o seguia
murmurando algo sem parar. Antes que pudesse pensar no que aconteceria se um
dos presentes se tornasse um cadáver canibal o doente se manifestou gritando
com raiva.
- Estou doente sim, mas é assim
todo ano! Nesta época eu sempre fico doente. É o clima. Tenho problemas
respiratórios, porra!
- Ninguém falou que você vai
virar zumbi. Eu disse que você está doente! Vai gritar com a puta que te pariu,
caralho. Continua com essa banca e eu te encho de porrada!
Os ânimos não estavam bons e o
escuro oprimia as pessoas. Quanto tempo passariam ali? O pessoal que estava
antes deles já estava há um dia, mas ou menos, sem comida ou água. Só sabiam
que era esse o tempo do encarceramento porque alguém ali possuía um relógio
digital. O tempo passava consideravelmente mais devagar naquela situação e ter
um relógio era uma maldição. Era inevitável pensar o pior e ficar remoendo maus
pensamentos. Nisso Luiz percebe o que Antônia estava murmurando: era uma reza,
ou melhor, uma reza emendada na outra.
“Se isso a faz sentir-se
melhor, melhor pra ela”, pensou.
Algum tempo se passou e
escancararam a pesada porta de metal, mas apenas para tirar as primeiras
pessoas de lá. Ao homem que tossia, no entanto, ordenaram que continuasse por
lá. Quando este começou a protestar lhe perguntaram bruscamente “quer água?
Então cala a boca!” e lhe jogaram uma garrafa de dois litros de água mineral
quente. O homem a abriu e começou a beber no ato enquanto tornavam a fechar a porta.
Uma das meninas falou “tô com sede”, mas sua mãe lhe disse que ficasse quieta.
As meninas começaram a chorar, primeiro uma e depois a outra, não se sabe se
pela falta de água ou pela esperança que sentiram de sair daquele breu. O homem
ofereceu um pouco de água, mas a mãe delas simplesmente lhe disse “não
obrigado”.
- Pensa que eu estou
contaminado, né?
- Penso!
- Mas não estou! Vá se foder! Agora
suas filhas irão ficar com sede!
- Pelo menos não irão morrer!
- Eu queria estar com isso que
você pensa que eu tenho, porque aí eu morria, voltava e matava tu e tuas
filhas, idiota!
- Pessoal, vamos nos acalmar!
- Porque você acha que ele
continuou preso? Eles sabem que esse daí está pra morrer!
- Eles me deixaram aqui porque
são filhos da puta medrosos como você.
Mais tempo passou. Sem o homem
do relógio, nem se quisessem poderiam saber há quanto tempo estavam trancados naquela
masmorra improvisada. Dona Maria Antônia não parava de rezar, mas não parecia
tão assustada quanto os outros. Luiz desejou ser mais religioso nesse momento,
pois não tinha fé num final feliz para essa história. E se eles nunca mais
abrissem a porta? Poderiam ter sido mortos lá do outro lado, ou não se
importarem com o destino dos cativos. Estaria dona Antônia encomendando sua
alma ao Criador?
No meio desses pensamentos
terríveis o som inconfundível da tranca da porta se fez ouvir, seguido de uma
intensa luz que cegou a todos.
CONTINUA SEMANA QUE VEM.
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