terça-feira, 13 de janeiro de 2009


É difícil explicar como o metal entrou e faz parte da minha vida. Há tempos eu penso em colocar isso em palavras, mas é complicado.


Para quem não conhece ou gosta desse estilo musical é mesmo impossível. Seria como tentar descrever o cheiro de uma bela macarronada para um etíope que não sabe o que é tomate, ou falar do amor físico, emocional e espiritual que se sente pela mulher amada à uma garotinha de seis anos.


De maneira que vou apenas falar do meu relacionamento com o metal.


Vai ter de servir. Se você ao entende ou aceita, ao menos respeite, pois é de um amigo muito próximo, um pouco mais velho e que me acompanha há anos que vou falar agora.


Não me lembro bem há quanto tempo eu conheço o metal. Ele nasceu rock&roll e seu avô é o blues. Muita gente, inclusive o Raul, diz que o Diabo é o pai do rock, mas a verdade é que o rock nasceu por causa do Diabo e das coisas que ele apronta por aqui. O rock é uma música de protesto, tanto que há uma banda punk do Brasil que se chama Protestantes.


O inconformismo e a revolta dos jovens, aliada à tristeza que aparece na adolescência, deram origem à muitas coisas. Entre elas o blues e depois o rock. A revolta é a mãe do metal.


Não é à toa que os nerds em geral gostem de metal, pois quanto mais inteligente o ser humano, mais ele percebe como as coisas são e mais revoltado fica. Não parece muito, mais eu sou nerd. Troquei os óculos fundo-de-garrafa por lentes de contacto, aprendi a me vestir melhor e comecei a sair mais, mas ainda prefiro ler a assistir TV, acho ruim dançar e fico embaraçado se uma mulher mexe comigo a rua.


Uma coisa que nunca mudou foi o meu apreço pelo metal, desde que o conheci. Gosto do rock, mas a amizade forte veio mesmo com o seu filho revoltado.


O metal nasceu nos anos 60. Quando estava crescendo eu estava nascendo, nos anos 70. Quando estava se difundindo, na década seguinte, eu estava crescendo e esbarrei com ele por aí. Ele andou de bicicleta comigo, em barrancos escuros à noite, enquanto eu ouvia o Judas Priest executando o Painkiller no walkman. Não dava para ter medo de se machucar com isso em mente.


Um dia, voltando pra casa não sei de onde, vi na esquina da rua Jacareúbas, no Kíssia mesmo, um monte de revistas Rock Brigade. Juntei tudo e passei dias lendo. Recortei algumas imagens e fiz colagens. Era o início da adolescência e de tardes sabendo da vida do metal.


Nos tornamos bons amigos, mas não andávamos muito juntos. Nos anos 80 e início dos 90 rolou no Brasil um estilo musical que tomou tudo. Um estilo muito chato de rock, que primava não pela parte divertida e que te mandava fazer alguma coisa a respeito do que havia de errado no mundo, mas um que reforçava que mundo era grande e assustador, que os pobres estavam fodidos, que a classe média era apática e que os ricos estavam no poder só fazendo merda. Isso e umas coisas românticas ainda mais chatas. Só servia para o cara ficar mais miserável! Me tornei inimigo desse filho do rock e praticamente parei de ouvir música brasileira por causa disso.


Também por isso não aprendi a tocar guitarra. Imagine a situação. O jovem Cão Babão pede para um amigo lhe ensinar a tocar violão (pois não tem dinheiro para pagar por aulas). O amigo lhe diz “Claro! Tem uma música do Legião Urbana que é muito fácil de aprender...”.


Na hora eu dizia “não... deixa...”.


Depois eu descobri que gostaria de aprender a tocar bateria, mas bateria deve ser um dos instrumentos mais caros e você precisa ter essa porra em casa para praticar.


Com o passar do tempo comecei a conhecer mais de perto os caras que agiam através da força do metal para dar vida à coisa. As bandas de verdade. Algumas morreram tempos atrás, outras são incompreendidas e ainda estão por aí. Percebi que não gostava só de metal. Percebi também que não gostava de todos os filhos do metal.


Mais algum tempo se passou e eu tive meus próprios filhos. Logo os iniciei no estilo de vida de quem curte metal colocando-os para ouvir um som desde a mais tenra idade, assim como passando filmes de mortos-vivos pra eles desde os dois anos de idade, quando a criança começa a falar o suficiente para manter uma conversa.


Eles já têm seus estilos prediletos e sabem fazer uma rodinha.


Grandes shows, só os de hardcore. Em Manaus ainda esperamos por um show assim. O Megadeth passou perto disso e o Iron Maiden promete.


Para você entender um pouco do que representa o metal pra mim, saiba que quando estou triste uma de suas canções vêm me socorrer. Quem já viu o filme Laranja Mecânica sabe como é isso. Uma vez eu estava no fundo do poço pensando em como as coisas não faziam sentido e ouvi o Bruce, do Iron Maiden, dizer pra não perder tempo procurando o tempo perdido, mas manjar que o tempo bom é o agora. Deixei de frescura na hora!


Há coisas que só um irmão mais velho faz por você. Mas e quando você é o irmão mais velho? Só um amigo mais sábio pode te ajudar.


Como o metal tem uma origem multidisciplinar, funciona parecido com uma Bíblia: foi escrito por muitos, tem um tema central e muitas formas de ver a mesma coisa. Se quiser uma idéia, um consolo, um ombro amigo ou ver o que foi feito em situação similar, procure em meio ao metal.


O metal também pode simplesmente servir para divertir. Há músicas que funcionam como histórias de terror, como histórias de amor (pé no chão), histórias de homens durões e de mulheres que enrolariam o próprio Diabo...


O metal é meu amigo, nada me faltará! Se eu andar no Vale da Sombra e da Morte, não temerei mal algum: um som pesado vai me deixar à vontade.


Nas palavras de Jack Black: you can’t kill The Metal. The Metal will live on!

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