Isso
é parte de um roteiro que eu gostaria de ver tornar-se um filme. Vou parar um
pouco de fazer os contos e passara desenvolver essa história aqui,
semanalmente, sempre às segundas-feiras.
Parte
1º - Despertar Em Um Pesadelo.
"Não
fiquem admirados com isto, pois está chegando a hora em que todos os que
estiverem nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão; os que fizeram o bem
ressuscitarão para a vida, e os que fizeram o mal ressuscitarão para serem
condenados.” João
5:28-29
Luiz
acordou no chão. Teve um sobressalto quando percebeu que estava numa casa
desconhecida, cercado de estranhos. Sequer podia dizer se era dia ou noite,
visto que grossas cortinas cobriam as janelas. As pessoas à sua volta, no
entanto, pareciam pacatas, ainda que estivessem ansiosas. Era uma família,
provavelmente. O homem era branco e quase que totalmente careca em cima da
cabeça, com uma farta barba castanha com uma mancha grisalha no meio. Bem
diferente do resto da família, duas meninas, uma mulher e uma velha, caboclos
típicos de Manaus.
O
homem estendeu a mão para lhe tranqüilizar, sem tocá-lo.
-
Me chamo Ismael. Você está em nossa casa. Está bem?
-
Como vim parar aqui? O que aconteceu?
-
Você sofreu um acidente bem em nossa frente e te trouxemos pra casa quando tudo
começou. Você esteve dormindo por quase um dia inteiro.
-
Não lembro de nada.
-
Fale baixo, por favor. Eles estão lá fora.
-
Eles quem?
A
família se entreolhou.
-
Quer dizer que você não sabe o que está acontecendo lá na rua?
Luiz
franziu o cenho e fez que não com a cabeça. Olhou mais uma vez para as janelas
cobertas. Poderia ser qualquer hora lá fora. Se deu conta de que sua cabeça
doía e de algo mais... um cheiro ruim, mas de quê?
Voltou
a olhar para Ismael. Ele estava olhando apreensivo para a esposa, ela com as
mãos nas dele. O homem olhou para Luiz e disse sem rodeios “os mortos se
ergueram para se alimentar dos vivos!”
“Que?”
Foi a resposta.
A
mulher tomou a palavra. Ela falava com olhos esbugalhados, se inclinando pra
frente no sofá. Luiz, que estava no chão, recuou um pouco.
Quem
morre não continua morto! Quem morreu faz tempo não volta, mas quem morre volta
rapidinho, fazendo “uuuUUUUUuuu” e com as mão querendo te pegar! Pior que
visage!
“Pelo
menos sei que estou em Manaus com todo esse amazonês”, pensou Luiz. Ismael pôs
a mão no braço da esposa para tomar a palavra.
-
Temos que ficar quietos, pois eles não nos incomodam. Os vizinhos tentaram
bloquear as janelas com tábuas e os martelos batendo atraíram uma multidão de
mortos-vivos.
-
Não podem ser mortos-vivos! Deve ser outra coisa!
-
Vou te mostrar.
Ismael
seguiu por uma escada em caracol que dava acesso aos quartos no andar de cima.
Luiz o seguiu. Lá em cima, além de dois quartos, havia uma espécie de sala que
servia de varanda e acesso aos dois quartos. A vista estava bloqueada por uma
grande lona verde escura. Ismael se aproximou lentamente, indicando um pequeno
furo na lona.
O
visitante olhou.
Num
primeiro momento ele viu uma rua apinhada de gente, todos convergindo para o
vizinho da direita, mas aí percebeu que as pessoas estavam muito, muito
estropiadas. Não era como nos filmes ruins que assistia com o irmão mais velho,
em que os mortos tinham a pele solta na cara ou dentes enormes e quadrados.
Eles eram muito diversos! Viu um homem andando com os intestinos esbranquiçados
pendurados como um avental na frente das pernas. Havia uma espécie de esqueleto
andando com pouquíssimos músculos e de crânio completamente descarnado, exceto
pelos olhos e língua que ainda estavam lá. Viu uma senhora finamente vestida de
rosto enegrecido por algo que parecia ser um enorme hematoma. Ao lado dela
estava uma jovem alta de óculos escuros comendo uma grande perna de cachorro.
Do outro lado da rua estava um homem de terno parcialmente queimado, com a pele
da face encolhida, rasgada e chamuscada, os raros cabelos todos de pé, de boca
escancarada e com um olho torto. Havia um outro homem praticamente inteiro,
exceto que lhe faltava um terço do rosto. Viu crianças, velhos, homens e
mulheres. A maioria tinha feridas terríveis no rosto e nos braços, muitos tinham
as barrigas abertas, com ou sem vísceras. Todos tinham o no rosto uma expressão
de dor e tristeza. Os olhos eram baços, mas não eram esbranquiçados como nos
filmes.
Logo
presumiu que a doença que os transformou em monstros similares aos vistos no
cinema não deveria ser como no cinema, mas não iria se arriscar.
-
Como foi que isso aconteceu?
-
Não sei. Ontem eles começaram a aparecer em toda a cidade, mais ou menos ao
mesmo tempo. Apareceram nos jornais logo cedo e daí houve um engarrafamento
monstro quando os mortos começaram a atacar os motoristas indo pro trabalho. Os
motoristas se tornaram monstros também e daí o problema aumentou rapidamente.
-
Mas mortos-vivos!? Isso não pode ser!
-
Você acabou de ver!
-
Sim, mas deve ser outra coisa! Deve ser uma doença! Eles não podem estar mortos
e vivos ao mesmo tempo!
-
Amigo, por favor fale baixo, sim? Te salvei de ser comigo vivo lá fora. São muito
parecidos com mortos-vivos, com as tripas penduradas, carne e sangue faltando,
porque não chamar de mortos-vivos? Vou chamar de monstros, está bem?
- Isso
parece pior que mortos-vivos. O que foi que aconteceu comigo?
-
Um carro bateu porque o motorista lutava com um dos “monstros”, daí uma roda se
soltou, rolou pela rua, bateu no meio-fio, subiu alto e caiu na sua cabeça.
-
Não lembro de nada disso.
-
Deve ser da pancada.
Luiz
se conformou e agradeceu mui respeitosamente ao homem que lhe salvou a vida.
Não tinha dúvidas de que esse paulista (parecia paulista, ao menos) lhe
salvara. Resolveu que chamaria os doentes de “infectados”. Todos os infectados
pareciam ter sido parcialmente devorados. Não sabia como a doença deles
funcionava, mas sabia que seria morto se ainda estivesse nas ruas. Era um
sobrevivente improvável, fora de forma e sem qualquer habilidade em combates,
todo exercício que fazia se resumia a ocasionalmente subir uma escada no
trabalho, onde passava até oito horas sentado.
Os
dias foram passando. Arrumaram um lugar na sala mesmo para servir de quarto
para o pobre homem resgatado. Nesse meio tempo, descobrira que estava na Cidade
Nova, não muito longe do DB. Luiz vez em quando subia para observar os
infectados. Notou que uma vez interessados em algo – como na casa do visinho da
direita – nunca a deixavam de lado. Imaginou que essa informação deveria ser
útil em dias futuros, pois a comida estava acabando.
Logo teriam de ir às
compras.
CONTINUA SEMANA QUE VEM.
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