terça-feira, 28 de julho de 2009



Presença de palco é algo que muita gente já trás de berço, mas pode-se adquirir com alguma prática. Uma vez que ainda estou com o show do Aniversário do Porão na cabeça, vou falar um pouco da festa e da presença usando como exemplos principais Matanza e Raimundos.

Neste sábado, dia 25/07, foi a festa de aniversário do Porão do Alemão. O bar faz aniversário no Dia Mundial do Rock, 13/07, mas a festa foi marcada para esta outra data e em outro local. O show rolou na Academia de Tênis e foi a minha primeira vez lá.

A organização pecou. Normal, coisas de rock em Manaus são quase sempre assim. Se eu fosse fazer a sequência das bandas, não deixaria a Four Horseman por último ou poria uma banda local se já rolariam quatro bandas de fora. Nada contra a Hightower, gosto muito da banda e cantei com eles, diga-se de passagem. Só achei que não precisava deles por lá no aniversário, pois já ouviríamos cover da Four Horseman.

Infelizmente a minha namorada estava ferrada do joelho e quando muitos sentaram no chão logo após o Raimundos o joelho dela desistiu de viver e tivemos de sair fora sem ver o Four Horseman, que ela já havia visto mas que eu nunca prestigiei.

Fica pra próxima, prefiro a minha bonitona que qualquer banda.

Se eu fosse fazer a sequência das bandas, colocaria Four Horseman, depois Matanza, daí o Joe Lynn Turner e então o Raimundos pra finalizar. E explico: a Four é cover – bom pra fazer aberturas – Matanza é pra não deixar a baderna cair (e é bom pra caralho), depois o Joe, que muitos não gostaram porque foi calmo demais para vir depois de duas bandas boas para fazer roda como Raimundos e Matanza, e finalmente viria o Raimundos, pois todos esperariam para ver a banda.

A festa foi boa apesar de qualquer coisa. Lá estava em companhia de amigos, encontrei outros amigos no local e comemorava a vida ao lado do meu amor. Mas não estou aqui para falar só disso.

Matanza e Raimundos são bandas de rock bem diferentes. O primeiro grupo é formado por cariocas que se recusam a serem identificados como tal. Isso já é raro, pois cariocas adoram dizer que são cariocas. Eles preferem dizer que nasceram no Rio de Janeiro por acidente e que são de Tombstone City. Suas orientações musicais vêm do Country e do Hardcore, o que eles chamam de Countrycore, além de serem obcecados por mulheres, birita e porrada. São fortemente influenciados pelo Johnny Cash. O Raimundos é formado por descendentes de nordestinos nascidos em Brasília, sendo que sua música é um misto de ritmos nordestinos e grindcore, o que eles certa vez chamaram de Forrócore. São muito influenciados pela banda Ramones e suas letras contém sacanagem explícita, amor e drogas, mas falam muito da realidade humana dos menos favorecidos.

Ambos têm grande presença de palco. O Jimmy, vocalista do Matanza, gosta de provocar o público e apresenta uma só expressão, meio psicopata, quando está no palco. Dizia que o público era quente, mas que as mulheres eram ainda mais quentes, pedia pro público fazer barulho e depois que o público atendia pedia pra fazer ainda mais barulho. Tudo isso mal se movendo do lugar, mas com a platéia na mão. O Digão, vocalista do Raimundos, contava piadas, fazia o Caniço contar piadas, mudava a introdução das músicas de propósito, entrava com músicas românticas lentas para depois arregaçar numa porrada, mandava o povo fazer roda ou rodas camisas ou bater palmas e era sempre atendido. Nunca ficava quieto no palco e chamava mais palavrão do que todas as outras bandas juntas, mas parecia uma coisa natural. Voltou com a insistência do público e...

Digão: “Vamos tocar mais uma?”
Caniço: “...ou duas?”
Digão: “Uma foda pra ser boa tem de ser três!”

Tocaram mais três, até porque se um é pouco e dois é bom, três é demais! Agora me diga por que o Joe Lynn Turner não conseguiu o que os outros conseguiram? Não tinha presença de palco! Não sabia sentir o que o público precisava dele, não percebeu que não bastava só ter boa música pra fazer o povo levantar do chão.

O pior é que se pode desenvolver presença de palco, mas não se pode ensinar. Você só pode aprender fazendo, e ainda pode perder o jeito com o tempo ou pegar um público difícil. É verdade que um único show de rock pode mudar o mundo, mas só se os músicos tiverem atitude severa.

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