Diabo no
Couro – Parte 5
Acordou em
sua cama, no hotel. Uma
rápida verificação e constatou que acontecera novamente como da última vez: estava
nu, com arranhões no pênis.
As cortinas estavam cerradas e a luz não podia entrar. Achou
ótimo, mas não dava pra imaginar que horas seriam. Estava faminto, então devia
ser tarde para o café da manhã. Mesmo assim, como da última vez, iria pedir o breakfest. Era sua refeição favorita e
comeria isso mesmo se acordasse às 22:00.
Neste momento ouviu nitidamente o som
da descarga soando no banheiro.
O medo lhe atingiu com a velocidade de um raio, que subiu
correndo por sua coluna. A porta estava destrancando e ele se levantou
atabalhoadamente para enfrentar quem quer que fosse. Saiu de lá a alemã da
noite anterior, nua, que se surpreendeu com sua postura. “Vai me bater, schön?”
- Não. Claro
que não. Só não sabia que você estava aí.
- Então não
se lembra de nada da noite passada?
- Não –
disse, encarando os seios imaculadamente brancos – o que aconteceu, afinal?
- Não pode
adivinhar – foi a resposta, acompanhada de um sorriso brejeiro.
“Você foi possuído assim que entrou no quarto escuro e me possuiu
em seguida. Foi um sexo furioso e apaixonado, em que você não teve pena de empurrar
seu pênis que estava dolorosamente duro pra dentro de mim, de todas as formas
que quis pelo tempo que conseguiu, que foi muito tempo, aliás. Tudo bem, quando
te levei pra lá era exatamente isso que eu queria. Só não sabia que você não
iria se lembrar de nada, o que é uma pena pra você. Isso quer dizer que fodi
com ela e não com você, que foi só um instrumento. Um belo instrumento, aliás.”
- Ela?
- A demônia, sua familiar.
A cabeça de Geanderson girava. Queria muito aquela mulher,
mas agora esta lhe dizia que isso não só já havia acontecido como seu corpo o
fez no automático, com sua mente desligada ou coisa assim. Como assim demônia?
- O que quer dizer com “familiar”?
- Vamos nos sentar. Acho que tenho muito pra te ensinar.
Ela não tinha o menor pudor em se mostrar pro brasileiro, que
estava embasbacado com a beleza de sua visitante. Dizem que a nudez nos tira a
beleza que as roupas nos emprestam, mas não com aquela europeia. Ela parecia
ter sido esculpida, só que então a estátua criou vida e caiu na noite.
“Você, de alguma forma, se abriu para um demônio. Você o
convidou. Foi alguma atitude que tomou ou uma nova postura mental que adotou.
Talvez tenha passado perto de algum lugar maldito e a criatura viu algo em você
que lhe atraiu. De qualquer forma, ela só pode chegar a você porque você lhe
permitiu isso. Você a convidou e não vai poder lhe mandar embora facilmente.
Ela parece gostar realmente de você e não está lhe atrapalhando a vida, mas
simplesmente te fazendo viver seus sonhos mais secretos. Ainda bem que não são
desejos mórbidos ou assassinos. Não era pra você dormir, no entanto, mas curtir
o momento. Acho que você não estava preparado pra isso.”
“Pode apostar que não!”, pensou
Geanderson, mas continuou calado.
“Um familiar é um demônio pessoal. Ele está sempre com você,
mas há horas em que está mais atuante. Ela parece ser noturna. Demônios são
entes extra-planares sem gênero definido, mas assumem formar que lhe apetecem.
No caso, sua familiar é uma mulher. Ela te disse alguma coisa?”
– tchávitô, ou coisa assim – disse
olhando a vulva loira.
“Já ouvi esse idioma antes. Alemães são bons em línguas”. Ela
sorria de maneira encantadora ao se gabar de pertencer à um povo culto. Seus
dentes arranhavam docemente os lábios. Seu pênis começou a se erguer e ele não
fez qualquer esforço para esconder a ereção. Se ela não se importara de usar seu
corpo com auxílio de um monstro, machucando pra valer seu membro, não seria ele
quem iria bancar o tímido. Na verdade, enquanto ela ligava para alguém lhe
fazendo sinal que esperasse um pouco, focava o olhar nos dentes. Queria saber
como foi que ela lhe chupou para deixar seu pau daquele jeito. Havia outras
coisas que queria saber dela, claro. Era difícil adivinhar sua idade: falava
como uma pessoa muito vivida, mas parecia jovem demais para isso.
A mulher falava num alemão rápido demais para ele, que se
amaldiçoou por não ter estudado melhor o idioma que tanto o interessava. Só
entendia futilidades. “Bom dia”, “como vai”, “não, sai cedo ontem”, mas a
conversa em si não lhe era permitido entender. Ouviu claramente quando ela
disse ao seu interlocutor “tchávitô”, que soou diferente e terrivelmente
familiar. Geanderson não pôde evitar o medo que lhe comprimia lentamente o
coração ao ouvir a palavra sendo dita com exata entonação que uma criatura de
trevas já havia lhe dito. Involuntariamente olhou em direção à janela aonde viu
o ser sombrio pela primeira vez. Quase podia ver suas formas lá.
“Ainda bem que está claro”
Subitamente percebeu que ela estava se despedindo de seu
contato com o mundo fora do apartamento. A mulher lhe olhou no fundo dos olhos com
um sorriso de estranha expectativa e disse uma só palavra: verlockend.
- Desculpe, não sei o que quer dizer – respondeu em inglês.
- Entschuldigen Sie,
estava falando na língua materna e me confundi. Seu familiar
só disse csábító?
- Sim, isso... isso mesmo!
- “Tentador”. Acho que é o nome dela.
Geanderson deu um pulo ao sentir uma mão fria lhe segurando o
membro em riste. Só aí percebeu que era a mulher à sua frente que gentilmente lhe
tocara. Sorriu sem jeito. Ela, com olhar lânguido, se inclinava para lhe
beijar.
“Podemos? Quero lhe mostrar o que
perdeu ontem”.
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