segunda-feira, 22 de junho de 2009


Manhã de sol. Tudo certo. Viagem com amigos numa van de um estado a outro dos Estados Unidos da América. O motivo principal era o romance ameaçado entre um deles e sua namorada, que resolveu se mandar para uma faculdade diferente da sua, em outro estado, depois de toda adolescência ao seu lado

Se ele achava que tudo iria dar certo? Sim! Nem todos acreditavam nisso, mas a maior parte nem se importava. Os motivos para a viagem variavam muito. Amor pra um, mulheres ingênuas para outros, fuga da chatice para quase todos e aventura para a maioria.

Levavam uns poucos dólares, alguma comida, erva e cerveja. Era só um final de semana e por isso mesmo mal levavam roupas extras. Talvez tudo desse errado para o amigo e por isso mesmo tivessem de voltar correndo, o que seria uma frustração. Mas ei, todos eram amigos do cara, não é?

A viagem levaria algumas horas e logo as meninas e todos os caras que beberam precisavam mijar. Pararam em um lugar no meio do nada, pouco mais que uma grande cabana ao lado de uma interestadual empoeirada. Saía um som fraco lá de dentro e havia ainda uma bomba de gasolina entre a van e o barraco, que estava coalhado de motos à parede frontal. O motorista ficou lá fora, com a porta do veículo aberta, enquanto os amigos entravam no bar.

Sim, era um bar. O bar tinha um ar quente e vicioso, a luz era algo avermelhada dentro dele e aqueles que estavam lá eram todos mais velhos que o grupo de universitários que adentrava o recinto. Os braços dos motociclistas eram estufados de músculos e adornados com tatuagens umas por cima das outras. Os cabelos cresciam em profusão, assim como as barbas, e mesmo as mulheres que lá estavam tinham cicatrizes, dentes quebrados e olhares agressivos.

Sem perceberem muito bem no que haviam se metido, os garotos foram até o balcão. Uma das meninas perguntou educadamente “aonde fica o banheiro, por favor?” e recebeu um “FAZ NAS CALÇAS!” De um careca enorme. Havia um rifle acima das bebidas.

Começaram a ser cercados, mas não perceberam de imediato. Quando finalmente se deram conta disso, tentaram sair, mas o pessoal a sua volta não se moveu. “Queremos sair”, um deles disse, mas ouviu do barman um grito de “SEM CONSUMAÇÃO?” Cheio de rancor.

Pediram bebidas leves, mas o ogro que estava à sua frente pôs pra eles beberem uma pinga que estava numa garrafa enorme e transparente, com uma cobra dentro. Depois de hesitarem por um instante, todos beberam, e como por mágica os peludos deram passagem para a saída.

Ao saírem, porém, estavam tão nervosos que deixaram o motorista ansioso com sua pressa de sair de lá. O motorista, sem saber por que deveria se arrancar dali, bateu com a van em uma das motos, o que resultou em um efeito dominó. Se não havia motivo para correr antes, agora eles tinham. Olhando pra trás viram vários headbangers levantando motos do chão, enquanto outros voltavam correndo pra dentro.

Dirigiram sem parar até a segurança do destino final, a faculdade.

O caminho começava a se modificar lentamente. De terras áridas e avermelhadas de barro, apareciam aqui e ali árvores. Logo, pastos e algumas vacas podiam ser vistos. Mas as vacas eram estranhas, tanto na cor como na pelagem, mas estavam excitados demais para parar o carro, descer e olhar com mais calma...

...deveriam ter parado.

Ao chegar à faculdade, surpresa: ninguém à vista. Não havia funcionários transitando, universitários, pais ou qualquer tipo de visitantes. Estranho. Decidiram se dividir para procurar, nunca suspeitando que algo de realmente ruim pudesse estar acontecendo, acostumados que estavam à sua realidade em sua própria faculdade.

As meninas, menos duas, foram dar uma volta pelos espaços abertos do campus. A idéia era conhecer o lugar. Gente demais já iria ver os dormitórios com o jovem apaixonado. Das duas que não se juntaram ao grupo de moças, uma estava com o pessoal que iria ao dormitório feminino e outra foi sozinha procurar a quadra de basquete.

Ela amava basquete. Não tinha altura para entrar para um time nem a habilidade necessária para ser armadora. Nunca a aceitariam e ela sabia disso, mas tinha de estar por perto daquela atmosfera. Logo encontrou o ginásio, mas para a sua tristeza o acesso à quadra estava trancado com correntes em uma porta de grades. Antes de começar a se lamentar, no entanto, sentiu que não estava sozinha. Alguém vinha vindo à sua esquerda, bem devagar e no escuro. Ela se virou de frente e não viu ninguém, e não sabia por que, mas não conseguiu falar nada. Só ficou lá, parada, encarando as trevas.

De repente um gemido infernal que gelou a espinha da jovem veio da coisa que se aproximava dela. Era um lamento longo e triste, que certamente não vinha de uma garganta humana. Não via ainda o que produzira o som, mas sua indecisão passou um instante depois de ouvir aquele terrível som e ela correu. Correu como se sua vida e a de seus amigos dependessem de contar pra alguém o que havia ouvido.

Suas amigas estavam a uns duzentos metros dali. Andando a esmo pelo campus, encontraram um time de futebol americano terrivelmente machucado, principalmente nos braços, cabeça e pescoço. Era como se tivesse se metido numa briga contra gente demais para terem esperanças de ganhar. Andavam lentamente e estavam empapuçados de sangue, mas ninguém apoiava ninguém.

Esse grupo estava a uns cem passos deles. Era até mesmo ruim de olhar. Vários jovens fortes e altos, alguns que deveriam até ser bonitos sem toda aquela tralha sobre eles, estavam incrivelmente estropiados. Quanto mais perto chegavam, mas podiam ver dedos partidos, cortes fundos nos braços e pescoço, rostos ensangüentados... era tão ruim de olhar que resolveram ir por um outro lado. O lado oposto, para ser mais exato.

Nisso o time começou a gemer. Era como se tudo aquilo estivesse doendo pela primeira vez. Era um uníssono de agonia, e o som era aterrador. Não parecia vir deles, mas elas estavam vendo com seus próprios olhos quem gemia.

Na sua fuga, alcançaram dois homens com sobretudos baratos de professor, daqueles com proteções nos cotovelos. Começaram a pedir ajuda, mas eles se viraram e elas puderam ver seus olhos. Seus olhos estavam tão esbranquiçados, como se acometidos de uma catarata geral, que não deviam poder enxergar nada. Mas os professores as viam, pois lhes lançavam olhares famintos e começaram a gemer exatamente igual aos garotos do time de futebol americano. De repente o vento mudou e elas foram atingidas em cheio por um cheiro fortíssimo de carniça.

Pra van! Deveriam chegar à van o mais depressa possível!

O jovem apaixonado já estava à porta do quarto da sua amada, mas não tinha coragem para entrar. Lá de dentro, vinha um som repetitivo e monótono que ele conhecia muito bem: era o som dela sobre alguém, cavalgando numa cama, que rangia. Frente a sua paralisação, a garota que estava com o grupo o retirou gentilmente e se dispôs a entrar.

O que ela viu primeiro foi um loira nua, sentada de costas sobre um jogador de basebol. As roupas do rapaz, assim como o taco e a bola dentro da luva davam a dica. Mas aí ela viu o sangue grosso, escuro e em quantidade assustadora espalhado pelo chão. No momento seguinte, a loira se virou para a porta, e a amiga do jovem apaixonado pôde ver, além dos seios perfeitos, que aquela coisa não tinha mais lábios. Era como se ela tivesse comido eles.

O som que eles ouviam era o do monstro roendo os ossos do pescoço da sua vítima.

O monstro saiu de cima do jovem corpo morto, que já estava sem cabeça, e ao tentar descer da cama, tropeço e caiu. Rápida como um raio, a garota segurou no taco de baseball e acertou com toda a força a cabeça do monstro de cabelos amarelos.

O namorado, que entrou em seguida, foi à loucura. Mas aí ele percebeu todo o sangue e paralisou de novo. Foi empurrado pra fora pela amiga com o taco para afastá-lo daquilo que todos no corredor podiam ver. O cheiro era de matadouro. Ao se voltarem para as escadas, perceberam que vinham mais dois monstros e que mais estavam subindo. Virando-se para o outro lado viram um sujeito enorme, em roupa de futebol americano, vindo do final do corredor, como se tivesse se materializado ali. Mas como? Aí perceberam um tipo de elevador de serviço no fim do corredor à direita.

Bing.

O elevador se abrira naquele instante e não iria esperar muito. Passaram correndo pelo gigante, que tentou agarrá-los. O taco mudara de mão e estava com o mais fraco dos garotos, que acertou as pernas do adversário, sem produzir efeito. Chegaram ao elevador, mas as portas continuavam abertas. Procuraram por um botão para fechar mais rápido, mas era um elevador de serviço e não havia isso. Então a mão do monstro surgiu no vão da porta e todos sabiam o que aconteceria se as portas batessem na mão: tornariam a se abrir!

Desesperado, o portador do taco desceu o taco com toda a fúria na mão, para que esta deixasse espaço livre para a porta fechar, mas errou miseravelmente. Pior, ficou numa posição ruim e ficou claro para a garota que ele seria agarrado pelo gigante, que avançava. Esta tentou tomar o taco de sua mão, mas em pânico ele agarrou mais forte o taco e quem terminou por ser agarrada pelo monstro foi ela, que gritou por ajuda. Os outros dois homens tentavam sair pelo buraco do teto do elevador, mas o primeiro a chegar lá descobriu que não dava pra ver coisa alguma, que os cabos eram engraxados e impossíveis de escalar e que, se haviam escadas de serviço, estas podiam estar longe demais.

Meteu a cara pelo buraco e gritou a plenos pulmões “FODEU!”.

Num ato heróico, os dois homens que ainda estavam dentro do elevador se lançaram contra a massa de cento e dez quilos do jogador morto-vivo, derrubando-o e retornando para dentro do elevador bem na hora de ver que as pernas do zumbi barrariam as portas. Bem a tempo de chutá-las pra longe, também.

As garotas se encontraram com aquela que foi atrás da quadra de basquete, quase chegando à van ao mesmo tempo. Não tinham a chave da ignição ou da porta do veículo para poder entrar. Logo perceberam que seriam cercadas em minutos, pois os mortos chegavam por todos os lados, ainda que lentamente. Em desespero, uma delas enrola a mão direita num pano grosso e quebra o vidro da janela do motorista, abre a porta e logo todas estão lá dentro da van, sem saber como fazer ligação direta para sair dali, mas descascando os fios mesmo assim. Chegaram a se agredir enquanto entravam.

O cheiro era insuportável.

Enquanto isso, os garotos desciam pelo elevador. Logo estavam no térreo. A visão era aterradora: gente jovem morta, mas andando, com uma grande profusão de feridas e uma enorme quantidade de secreções podres cobrindo os corpos arruinados, convergiam para as escadas, atrás da sua carne e sangue. Dava para imaginar o que seria deles, se não corressem.

Nesse momento de indecisão, como se tivessem uma só mente, os zumbis olham para o lugar onde os vivos estavam parados. Os vivos correm.

A longe as meninas vêem os garotos chegando. Mais dois minutos e haveria tantos monstros ao redor que seria impossível atropelá-los todos para escapar. Começam a gritar e a gesticular, mas aí percebem que o buraco na janela impedirá a defesa e tudo parece rodar enquanto elas todas desmaiam.

Um minuto depois, os rapazes e a moça que corriam chegam ao veículo salvador, rearrumam as posições das garotas dentro da van, engatam a ré, manobram um pouco e correm muito, atropelando o mínimo possível de mortos-vivos. Viram os motociclistas que os perseguiam lutando sem esperanças de salvação contra um grupo de zumbis e atropelaram igualmente vivos e mortos que ficaram no caminho. Haveria tempo para remorso depois.

Depois de correr por vários quilômetros sem parar, os universitários se deparam com uma barreira do exército. Vários soldados estão nervosos e os mandam voltar por onde vieram, mas os garotos prefeririam levar tiros a voltar ao horror podre de onde saíram. Cada vez mais soldados chegam, ao longo de um par de horas de negociação entre oficiais e estudantes. Mais algum tempo se passa depois que são levados à tendas especialmente montadas para eles, aonde são interrogados à exaustão e medicados além do necessário, mas ninguém lhes explicava o que estava acontecendo.

Com o tempo ganham a confiança de um jovem oficial médico, que explica que o exército estudava um vírus que trazia os mortos de volta a vida. Haviam vacas infectadas com o vírus num pasto próximo à universidade especialmente para esse fim. Devido à brincadeira de alguns universitários que consistia em derrubar os animais durante o sono, assim como a subseqüente mordida que um dos animais infectados aplicou, o vírus passou para o campus depois que os assustados estudantes voltaram aos seus dormitórios. Minutos depois da morte do infectado, que aconteceu durante a madrugada, aconteceu a reanimação do corpo do jovem, que atacou seu colega de quarto e então começou a se espalhar a praga.

Depois disso declarou que não estavam infectados com o vírus, mas que eles deveriam permanecer sob custódia das forças armadas por algum tempo. Ao mesmo tempo em que havia a certeza de que estariam bem no fim, sabiam que até lá passariam por longas horas de testes dolorosos...

...mas ei, ninguém morreu, né?

Um comentário:

Anônimo disse...

Rapaz, tava inspirado hein?! E por que nao um livro de contos??