Diabo no Couro – Parte 4
Geanderson estava fascinado pela mulher à sua frente. Não só
era linda, como possuía um estilo único. Implantes modificavam seus dentes, suas
orelhas eram pontudas, parte de seu cabelo era raspado para dar um ar
animalesco ao couro cabeludo, tatuagens de pele de leopardo cobriam parte dos
braços, ombros e laterais do pescoço, lentes de contato de um vermelho profundo
decoravam olhos “puxados” para cima. Os cílios eram loiros, mas o cabelo
abundante e semiarmado era vermelho vivo na base, descolorindo lentamente para
um amarelo pálido. O maxilar dela era largo e delicado ao mesmo tempo, com
bochechas redondas, rosadas. Nas covinhas haviam brincos de bolinha. O batom
era de um vermelho clássico que chamava atenção devida à pele clara da face. As
sobrancelhas não tinham quase pelos e os que haviam eram muito claros.
Ele era mais alto e olhava de cima o decote da roupa dela,
que se abria desde a área da bexiga. Era uma espécie de macacão preto com
grandes lapelas vermelho sangue imitando barbatanas ou outra coisa orgânica. Os
seios eram tão redondos que pareciam siliconados, mas algo sugeria que eram
naturais. Fez um esforço terrível para não fixar seus olhos aí, mas era difícil.
A mulher tinha ainda uma capa também armada de alguma forma que não caía de
pronto, dando a impressão de asas de couro prontas para alçar voo.
E aquilo tudo estava sorrindo pra
ele!
Willkommen zurück, Geanderson. Pensei que não voltaria
a vê-lo. Que bom que estava enganada – Disse ela, acenando com a cabeça para o
segurança à sua esquerda. Este abriu a porta incontinenti. “Como ela sabia meu
nome?” martelava na cabeça de Geanderson, que estava a um só tempo intrigado e excitado
com isso. Ela entrou na frente e sua capa não lhe deixou ver sua bunda, o que
lhe frustrou mais do que esperava.
O brasileiro estudara por algum tempo o idioma alemão. Sabia
de antemão, por ter praticado com alguns falantes dessa língua, que seus “r”s eram
característicos ou de Schwerin ou do leste de Berlim. Ele gostava do tom:
lembrava Till Lindemann, se fosse uma vampira. Claro que de surpresa não
lembrou - até ser tarde demais - de lhe responder ao menos “Dank”.
Geanderson entrou atrás. A música era estranha, mas até que
gostava. Se considerava um metalhead, mas aceitava ouvir outros tipos de sons,
desde que fosse algo barulhento e estranho. Já havia ida à um Eco System, mas
nas haves usuais não toca aquele tipo de som sinistro. Isso aliado à vizinhança
sabidamente perigosa o deixou num estado de alerta terrível.
Passou por um homem com jeito de vampiro. Muito alto, de
cabelos compridos e lisos e um cavanhaque muito bem cuidado, seus olhos é que o
prendiam. Passavam uma informação quer não conseguia classificar, mas era um
olhar tão intenso que não podia ignorar. Era como se o homem estivesse com
ódio, inveja e chocado ao mesmo tempo.
- Já vi aquele homem? – perguntou Geanderson.
- Provavelmente não! – Respondeu sua anfitriã.
Ela se dirigia à área VIP. Entrou lá sem se deter ou diminuir
seus passos. Era como se fosse dona do lugar. Geanderson a seguia de perto. No
local, um grande sofá em forma de semicírculo coberto de veludo vermelho os
aguardava. Ele já estava ficando enjoado da cor, mas era tudo de muito bom
gosto. Imaginava se era o tráfico de drogas que sustentava aquilo tudo. A
música pareceu parar por um instante, mas era só o início de outra, cheia de
tons tétricos e gemidos de horror e dor, antes de reiniciar a batida eletrônica.
Ela sentou e pôs os pés na mesa, que parecia ser também um
enorme puff. Sorria brejeira. “Da última vez que nos encontramos lhe tirei
sangue de um jeito que eu mesma não esperava, liebe. Como ele está?”. “Ele quem?”, pensou Geanderson, mas aí
ocorreu o insight: as presas dela
causaram as feridas no seu pênis. Seria até bom, se ele tivesse alguma
lembrança disso. A mulher percebeu a confusão mental estampada no rosto dele e
disse “você não lembra, não é?”. “Acho que fui drogado noite passada”, começou
a dizer, mas aí percebeu que a mulher estava com uma expressão de divertida
surpresa e parou. “Quer dizer que você não sabe dela?”.
A vampira se levantou. Empurrou um espelho que se revelou uma
porta oculta. O quarto além estava totalmente escuro. Ele parou por um
instante, com a nítida impressão de que havia algo lá, olhando pra ele, até que
a viu.
Na escuridão absoluta do quarto oculto, estava uma mulher –
ou a sombra de uma mulher – um pouco mais alta que ele. As sombras de seu corpo
eram absolutas, tanto que se destacavam na escuridão. Seus olhos, bem como seus
dentes, no entanto, eram de uma alvura ímpar. Pareciam até brilhar, mas luz
alguma vinha daquela coisa. Um sentimento foi crescendo dentro de Geanderson,
misto de pavor e... o que?
A alemã desprendeu a capa e revelou aquele detalhe de sua
anatomia que o homem quis tanto ver antes ao dar as costas pra ele e entrar no
quarto escuro. Ela estava olhando direto pros olhos do monstro, mas o monstro
só tinha olhos para Geanderson.
“Você não vem, schöner?”, disse antes de desaparecer no escuro.
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