Juízo
Final – Parte 11 – Só o Começo
-
Tem certeza que o nome é esse mesmo?
-
Felipe Couto?
-
Sim!
-
Sim, tenho certeza!
-
Caralho que notícia boa! Pensei que toda a minha família estava morta! Será que
a mamãe está com ele?
-
Bem... não.
-
E alguns dos filhos deles?
-
Também não. Sinto muito.
Luiz
ficou pensando sobre isso. Em todos os filmes de mortos-vivos era morte certa
ir atrás de entes queridos. Ele achava
isso cruel até seu irmão Felipe lhe explicar de uma maneira simples “seria como
sair de casa em meio a um furacão; você simplesmente não chegaria lá”. O certo
é esperar e fazer seu melhor para continuar vivo e torcer para que seus
parentes e amigos façam o mesmo. Pensava que mesmo assim iria “quebrar o
protocolo” e sair em busca de alguém próximo, mas esteve dias bem perto do
apartamento da sua mãe e nem mesmo tentou ultrapassar os portões.
Chegando
ao 1º Batalhão de Infantaria de Selva Aeromóvel, desceram do jipe quase na
entrada do lugar e o carro seguiu apenas com o motoristas. De onde estavam
podiam ver um helicóptero Cougar pronto para partir. Subitamente, Luiz viu seu
irmão Felipe chegando com uma mochila grande demais pra ele, camiseta branca e
calças camufladas. Carregava ainda um fuzil Imbel FAL M-964 calibre 7,62 mm
Não
que Luiz soubesse dessas informação: sequer gostava de jogos de tiros e tinha
horror a idéia de servir às forças armadas.
Enquanto
andava apressadamente em direção à seu irmão, que parecia não tê-lo notado,
pôde perceber que os músculos de Felipe estava salientes. Seu irmão mais velho
sempre foi magro e, com os exercícios e alimentos regulares, logo ficou
atlético.
Felipe
percebeu o movimento em sua direção e à princípio pareceu não acreditar, daí
estancou, baixou a mochila e o fuzil no chão e correu em direção à Luiz. Se
abraçaram com força. Depois de alguns minutos de risos e “graças à Deus você
está vivo” voltaram à realidade deprimente que os rodeava ao conversarem sobre
parentes.
- E
a mamãe? Tens notícias dela?
-
Provavelmente morta. Ainda não podemos entrar no Parque Sabiá e acreditamos que
ela não pode ter resistido por tanto tempo. Há outras prioridades também e não
podemos dispor de homens para uma missão suicida.
-
E os seus filhos?
-
O bairro deles é muito longe daqui. Não dá para mandar ninguém para o Mutirão
agora e a casa deles não tinha qualquer tipo de grade. Quando tudo começou os
celulares pararam de trabalhar cedo demais e não pude conversar com ninguém de
lá.
-
E a sua mulher?
-
Eu estava no trabalho, perto do Dom Pedro. Também moramos longe daqui. Também
não sei deles. Espero que estejam bem, mas é uma esperança vã. Os meninos têm
conhecimentos básicos sobre os mortos-vivos, mas são crianças e não tinham o
treinamento com armas, de sobrevivência, essas coisas. Nem mesmo sabiam arrumar
comida sozinhos.
-
Não há mais ninguém que a gente conhece aqui?
-
Não. E você, viu algum conhecido? Como tem se virado por aí?
-
Eu apaguei no início disso tudo e não sei como fui parar numa casa na Cidade
Nova. Passamos um tempo lá, depois um tempo no DB da Cidade Nova e daí pro
Carrefour da Ponta Negra. Me pegaram perto de lá, quase na frente do Porão do
Alemão.
-
Foi lá que eu falei pela primeira vez com a minha esposa...
-
Sinto muito.
A
partir daí essa conversa triste ficou pra trás. Os militares deram um tempo
para que os irmãos conversassem sobre o que fosse e o helicóptero partiu sem
eles. Dona Antônia, que fora devidamente apresentada à Felipe, resolveu ficar
na cozinha do 1º BIS, onde se mostrou muito útil tanto cozinhando quanto
limpando. Os irmãos falavam principalmente sobre o que o 1º BIS estava fazendo
e como seria na ilha para onde iriam amanhã.
-
O batalhão está preparado para encerrar o problema com os mortos-vivos. Eles já
estão fracos e esparsos. Não é como nos filmes, onde as bactérias não faziam
muito mal à eles. Aqui em Manaus, por ser uma área tropical, tanto o Sol quanto
a chuva os estão fazendo apodrecer muito rápido. Por um tempo, muito eram
criados todos os dias, mas agora isso está quase zero e os monstros mais
antigos estão caindo aos pedaços.
-
Mas eu vi zumbis correndo ainda ontem, Felipe.
-
Eu disse que QUASE não há mais zumbis novos. Podemos lidar com alguns poucos
corredores e as grandes hordas serão manobradas com muita tática. Então, num
lugar seguro, serão exterminadas.
-
Parece fácil demais.
-
Não é fácil! É só um resumo. Vão usar uma idéia que eu dei, mas a execução vai
ser à maneira dos militares.
-
Qual foi a idéia?
-
Eles aprenderam um pouco, mas ainda são muito burros. Atraímos eles com um
pouco de barulho e comida aparentemente fácil para a Ponta Negra. Lá eles
cairão de certa altura no concreto abaixo e daí perderão quase que totalmente a
mobilidade. Preparamos um local lá para esse fim, aproveitando a forma que
construíram aquilo lá. Atiramos nos que
tentarem sair do poço. Depois de algum tempo queimamos a pilha de corpos completamente,
evitando assim que o mal se espalhe através de restos biológicos deles.
-
Você está falando como se fosse participar...
-
Tenho de estar lá para ver como vão fazer isso e adaptar no caso de não dar
certo, mas estamos confiantes que irá funcionar.
-
Até que enfim você encontrou um bom uso para esse seu conhecimento
enciclopédico, né?
-
É...
- E
amanhã?
-
Ilha!
CONTINUA
SEMANA QUE VEM!
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