segunda-feira, 12 de agosto de 2013


Juízo Final – Parte 11 – Só o Começo

- Tem certeza que o nome é esse mesmo?
- Felipe Couto?
- Sim!
- Sim, tenho certeza!
- Caralho que notícia boa! Pensei que toda a minha família estava morta! Será que a mamãe está com ele?
- Bem... não.
- E alguns dos filhos deles?
- Também não. Sinto muito.

Luiz ficou pensando sobre isso. Em todos os filmes de mortos-vivos era morte certa ir atrás de entes queridos.  Ele achava isso cruel até seu irmão Felipe lhe explicar de uma maneira simples “seria como sair de casa em meio a um furacão; você simplesmente não chegaria lá”. O certo é esperar e fazer seu melhor para continuar vivo e torcer para que seus parentes e amigos façam o mesmo. Pensava que mesmo assim iria “quebrar o protocolo” e sair em busca de alguém próximo, mas esteve dias bem perto do apartamento da sua mãe e nem mesmo tentou ultrapassar os portões.

Chegando ao 1º Batalhão de Infantaria de Selva Aeromóvel, desceram do jipe quase na entrada do lugar e o carro seguiu apenas com o motoristas. De onde estavam podiam ver um helicóptero Cougar pronto para partir. Subitamente, Luiz viu seu irmão Felipe chegando com uma mochila grande demais pra ele, camiseta branca e calças camufladas. Carregava ainda um fuzil Imbel FAL M-964 calibre 7,62 mm

Não que Luiz soubesse dessas informação: sequer gostava de jogos de tiros e tinha horror a idéia de servir às forças armadas.

Enquanto andava apressadamente em direção à seu irmão, que parecia não tê-lo notado, pôde perceber que os músculos de Felipe estava salientes. Seu irmão mais velho sempre foi magro e, com os exercícios e alimentos regulares, logo ficou atlético.

Felipe percebeu o movimento em sua direção e à princípio pareceu não acreditar, daí estancou, baixou a mochila e o fuzil no chão e correu em direção à Luiz. Se abraçaram com força. Depois de alguns minutos de risos e “graças à Deus você está vivo” voltaram à realidade deprimente que os rodeava ao conversarem sobre parentes.

- E a mamãe? Tens notícias dela?
- Provavelmente morta. Ainda não podemos entrar no Parque Sabiá e acreditamos que ela não pode ter resistido por tanto tempo. Há outras prioridades também e não podemos dispor de homens para uma missão suicida.
- E os seus filhos?
- O bairro deles é muito longe daqui. Não dá para mandar ninguém para o Mutirão agora e a casa deles não tinha qualquer tipo de grade. Quando tudo começou os celulares pararam de trabalhar cedo demais e não pude conversar com ninguém de lá.
- E a sua mulher?
- Eu estava no trabalho, perto do Dom Pedro. Também moramos longe daqui. Também não sei deles. Espero que estejam bem, mas é uma esperança vã. Os meninos têm conhecimentos básicos sobre os mortos-vivos, mas são crianças e não tinham o treinamento com armas, de sobrevivência, essas coisas. Nem mesmo sabiam arrumar comida sozinhos.
- Não há mais ninguém que a gente conhece aqui?
- Não. E você, viu algum conhecido? Como tem se virado por aí?
- Eu apaguei no início disso tudo e não sei como fui parar numa casa na Cidade Nova. Passamos um tempo lá, depois um tempo no DB da Cidade Nova e daí pro Carrefour da Ponta Negra. Me pegaram perto de lá, quase na frente do Porão do Alemão.
- Foi lá que eu falei pela primeira vez com a minha esposa...
- Sinto muito.

A partir daí essa conversa triste ficou pra trás. Os militares deram um tempo para que os irmãos conversassem sobre o que fosse e o helicóptero partiu sem eles. Dona Antônia, que fora devidamente apresentada à Felipe, resolveu ficar na cozinha do 1º BIS, onde se mostrou muito útil tanto cozinhando quanto limpando. Os irmãos falavam principalmente sobre o que o 1º BIS estava fazendo e como seria na ilha para onde iriam amanhã.

- O batalhão está preparado para encerrar o problema com os mortos-vivos. Eles já estão fracos e esparsos. Não é como nos filmes, onde as bactérias não faziam muito mal à eles. Aqui em Manaus, por ser uma área tropical, tanto o Sol quanto a chuva os estão fazendo apodrecer muito rápido. Por um tempo, muito eram criados todos os dias, mas agora isso está quase zero e os monstros mais antigos estão caindo aos pedaços.
- Mas eu vi zumbis correndo ainda ontem, Felipe.
- Eu disse que QUASE não há mais zumbis novos. Podemos lidar com alguns poucos corredores e as grandes hordas serão manobradas com muita tática. Então, num lugar seguro, serão exterminadas.
- Parece fácil demais.
- Não é fácil! É só um resumo. Vão usar uma idéia que eu dei, mas a execução vai ser à maneira dos militares.
- Qual foi a idéia?
- Eles aprenderam um pouco, mas ainda são muito burros. Atraímos eles com um pouco de barulho e comida aparentemente fácil para a Ponta Negra. Lá eles cairão de certa altura no concreto abaixo e daí perderão quase que totalmente a mobilidade. Preparamos um local lá para esse fim, aproveitando a forma que construíram aquilo lá.  Atiramos nos que tentarem sair do poço. Depois de algum tempo queimamos a pilha de corpos completamente, evitando assim que o mal se espalhe através de restos biológicos deles.
- Você está falando como se fosse participar...
- Tenho de estar lá para ver como vão fazer isso e adaptar no caso de não dar certo, mas estamos confiantes que irá funcionar.
- Até que enfim você encontrou um bom uso para esse seu conhecimento enciclopédico, né?
- É...
- E amanhã?
- Ilha!

CONTINUA SEMANA QUE VEM!



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