segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013



Se há um negócio que eu odeio é o retrabalho. Me sinto ridículo, estúpido, principalmente se sou obrigado ao retrabalho por forças maiores que eu e depois de perguntar, mais de uma vez, se não poderia fazer de uma outra forma. Uma forma criativa ou uma forma mais direta. Também me chateio quando o que deveria ser feito é esperar pelos profissionais competentes e sou obrigado a fazer merda porque alguém me manda, daí chegam os profissionais tudo tem de ser refeito.

Mesmo que não seja eu quem vai fazer. Retrabalho é uma merda e atrapalha o progresso.

Vou contar um pouco da mitologia do Sísifo à vocês.

Sísifo era considerado o mais esperto entre os mortais. Ele não era só inteligente, mas criativo, rápido de raciocínio e, uma vez que era um rei, fazia acordos em nome do seu povo, mesmo que esse acordo não fosse legal do ponto de vista dos Deuses. Ele era humano e se preocupava com os seus.

Ele fundou Ephyra, que depois mudou de nome para Corinto, casou com a filha do Atlas, enganou a morte duas vezes, enrolou o Deus Asopo para que arrumasse uma fonte para sua cidade, ficou amigo do maior ladrão da época Autólico, depois que ele lhe roubou o gado, porque este era esperto e não porque era filho do Deus Hermes, que é protetor dos ladrões, e por aí vai. Dizem até que ele era pai do Odisseu, um dos grandes da Grécia Antiga.

Mesmo assim, esse estadista admirável que até mesmo se arriscava com os Deuses para o bem do seu povo é para sempre lembrado como um dos maiores ofensores dos Deuses.

Depois que morreu de velhice, seu castigo no além foi o seguinte: levar uma grande pedra de mármore, com as mãos, até o topo de uma grande montanha. Feito isso, poderia ir embora.

Porra, claro que ele se empolgou! O trabalho não poderia ser tão difícil que ele não pudesse resolver de uma maneira criativa, não é?

Né não! Tacaram uma força irresistível na pedra que fazia ela rolar de volta pro chão, pro ponto inicial do trabalho do Sísifo, para que ele tivesse de iniciar o trabalho de novo e de novo, para sempre. Ele não desiste porque está num lugar infernal e quer se livrar de lá e tenta sempre, de alguma forma diferente, concluir o trabalho. Até hoje, “Tarefa de Sísifo” é uma expressão utilizada para serviços chatos pra caralho e inúteis.

Porque os Deuses deram para Sísifo um trabalho que ele não poderia concluir? Porque, de tantos trabalhos que poderiam dar a um homem capaz e criativo como ele, deram um serviço inútil?

Porque isso não é trabalho, é castigo! É para mostrar que os mortais não têm a liberdade dos Deuses. Por mais que tenham liberdade de escolha, tem de se concentrar na lida diária, no serviço cotidiano. Podemos até ser criativos nos serviços cretinos, mas nunca podemos incomodar os caras que estão acima de nós.

Pois bem: EU não sou assim. Por mais que eu tenha essa lição bem clara na minha cabeça, estou só esperando uma brecha para conseguir algo melhor. Se algum dia chegar a ser chefe, vou cobrir de glórias (e dinheiro) os que resolverem de forma criativa seus trabalhos e perseguirei implacavelmente os miseráveis responsáveis por retrabalho.

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