Bom dia! Hoje vamos discutir
aqui o que é mais-valia.
Na verdade você sabe o que é,
só não sabe que o conceito tem nome e foi formulado formalmente um tempo atrás.
Já deve ter se perguntado
como é que alguém que não trabalha ativamente na produção de um determinado
item, digamos, um picolé, pode ficar MUITO RICO com a venda desse picolé. Se o
dono da Kibon, por exemplo, pagasse
exatamente o valor para plantar, colher, beneficiar, distribuir e vender cada
picolé não sobraria nada pra ele, não é mesmo?
Mesmo que você leve em
consideração que há máquinas empregadas no processo e que máquinas não recebem
salário, se o número de picolés feito pelas máquinas deveria ser diretamente
relacionado com o valor da máquina, mais uma vez, se pago o preço justo pela
compra da máquina não sobraria nada.
Se esse executivo ganhasse um
salário justo pela tomada de decisão ou gerenciamento da marca ele não poderia
ficar rico, quanto mais milionário. Seus milhões vêm do dinheiro que ele deixa
de pagar ao agricultor, ao distribuidor, ao lojista. A diferença entre o que
ele paga e o que deveria ser pago – o justo – é a mais-valia, que parece pouco
para você, mas que deixa o dono da Kibon multimilionário.
É sério: com apenas 1.700
funcionários, a Kibon (que só opera no Brasil) tem faturamento anual estimadode R$ 1.200.000.000,00 (!!!)
Antes de Karl Marx outros
estudaram o lucro. Adam Smith entendia que o próprio mercado produzia o
lucro através da lei da oferta e da procura (quanto mais algo é procurado mais
difícil é atender a demanda e por isso maior é o preço, gerando maior lucro).
Só que isso afastava o lucro da produção, o que não procede.
Já para David
Ricardo o lucro nada mais era do que um resíduo da produção. Isso é um
bocado simplista. Ele acreditava inclusive que caso os salários subissem os
caras da mão-de-obra se reproduziriam tanto que a grande oferta de
trabalhadores iria baixar os salários naturalmente. Em outras palavras, para
Ricardo era tudo natural.
Então, para Marx, o lucro não
poderia ser assim porque percebeu que o fator biológico (os trabalhadores
assalariados) mudavam muito com a cultura do local e com o tipo de trabalho, de
modo que a personalidade, a cultura, o tipo de esforço modificava tudo. Não
podia ser natural, portanto. Além disso, sem esforço físico, não haveria
capital. O lucro não era mero subproduto natural nem estava ligado apenas à
leis de mercado.
O valor do trabalho, segundo
Marx, não poderia ser medido pela força do trabalho, ou um funcionário fortão
deveria ser mais bem pago que um magro, sequer pela sua habilidade, pois o
progresso tecnológico sugere que haverá uma crescente uniformização da
habilidade do trabalhador basicão.
Para entender melhor, pense
em um cara numa linha de montagem. Ele não precisa saber mais que o cara do
lado, nem ser mais forte do que ele. Progresso tecnológico e uniformização,
manjou?
O valor do trabalho é
abstrato, porque se o cara fosse pago pelo tempo que gasta trabalhando os
trabalhos mais simples e demorados seriam os mais bem pagos do universo e os
menos habilidosos ganhariam mais que todos pois demorariam mais que os outros
para produzi-las.
Isso mostra claramente que os
sistemas baseados em Comunismo não querem que todos sejam igualmente pobres,
como li por aí, mas que todos ganhem o justo. O que ocorre é que todos querem
ser ricos, pensam como capitalistas gananciosos sem perceber que nunca ficarão
ricos e que pensando assim só protegem o sistema que deixa os caras ricos mais
ricos.
Ainda assim, Karl Marx
entende que o salário capitalista é “justo”, no sentido que o trabalhador
aceita trabalhar pelo salário pago e não há exploração do tipo escravo/senhor,
mas chama atenção para o fato de que o valor real do trabalho não é pago, pois
aí não haveria lucro.
Preste atenção... lá vai: a
diferença entre o que é pago e o que o trabalho do trabalhador realmente vale é
a mais-valia. O que eles deixam de te pagar enche os cofres.
Mais tarde Alfred
Marshall explicará que é praticamente impossível se pagar o justo ao
trabalhador, pois as flutuações do mercado, mesmo com a venda direta,
impediriam que isso, o pagamente do justo, acontecesse sempre, mas Marx não
estava tão preocupado com o que é pago ou no lucro em si, mas no problema
social.
Atenção de novo... tá
ouvindo?... Então: a idéia aqui é resolver os problemas da desigualdade social,
a causa primeira da violência urbana e outras merdas. O lucro capitalista para
Marx é o excedente mediado por uma relação social de exploração.
Pois é: quase todos somos
explorados, nesta ou naquela medida.
Outra coisa que o patrão pode
fazer para ganhar mais dinheiro (mais-valia) é aumentar a jornada de trabalho
mantendo o salário igual (gerando mais-valia absoluta) ou aumentar a
produtividade através de mecanização (mais-valia relativa). Isso mostra
claramente que a teoria de Ricardo, que a mais-valia era um resíduo natural,
não procede, pois o capitalista pode aumentar a taxa de lucro conscientemente.
Não é necessário que o
trabalhador entre mais cedo e saia mais tarde para aumentar a jornada de
trabalho, basta que se diminua o tempo do almoço, se cronometre atividades, que
se exerça um controle mais rígido no ambiente de trabalho. Todos sabemos por
exemplo que são necessárias pausas ao digitador para evitar lesões, diminuindo
as pausas (com cronômetro) temos mais tempo de trabalho e mais-valia absoluta.
Para os economistas
austríacos, que tiveram seu pensamento desenvolvido entre os séculos XIX e XX,
isso de mais-valia não existe, pois os empregadores pagam aos funcionários
salários constantes ao passo que o preço de mercado não é constante e tem de
ser ajustado constantemente, que o salário do patrão vem deste trabalho e que
em última análise isso protege o salário do funcionário, pois se as coisas vão
bem, os salários aumentam.
Claro que isso é balela. Se
você faz supermercado como eu, sabe que os salários, por mais que aumentem, não
acompanham a inflação, que é causada justo pelos capitalistas que não querem
perder a margem de lucro. Se o trabalho deles fosse meramente manter o seu
trabalho à salvo, não seriam milionários.
Nenhum comentário:
Postar um comentário