quinta-feira, 21 de março de 2013




Ouvi uma história hoje de uma amiga de um amigo meu que é missionária. Eu já sabia da primeira parte da história: ela, que mesmo tendo dinheiro e sendo bonita, resolveu se guardar para o casamento devido às convicções religiosas e, graças à morte trágica do seu noivo, resolveu se tornar missionária.

Até aqui ela estava sendo educada pelas freiras. Levou uns três anos. Ontem, depois de retornar à Manaus para visitar os parentes, partiu para a Etiópia.

Quando ela decidiu ser freira missionária há alguns anos ouvi um monte de coisas. Exemplos abaixo. Não adianta me perguntar que eu não citarei as fontes.

·       Que ela só fez isso porque nunca foi bem comida;
·       Que ela surtou devido à morte do homem dela;
·       Que ela não pensou na mãe dela quando fez uma merda dessas;
·       Que ela é fanática religiosa;
·       Que uma pessoa que não fode não pode ser normal.

Hoje eu ouvi que a mãe dela pensava que iria conseguir fazer a fulana lá desistir. Porra, ela veio se despedir!

Ouvi que ninguém aceita – família e maior parte dos amigos – e só pensam em como ela vai passar mal e como ela estava mal-vestida, indo para um país pior que o nosso, quando poderia ficar aqui e ajudar um monte de gente e ainda ficar junto da família.

Eis o que eu penso sobre isso.

Não acho normal uma pessoa não fazer sexo. Eu faço e recomendo. É mesmo muito bom, mas se a pessoa não se sente à vontade em fazer algo não deve fazer só porque todos fazem. Só passei a beber álcool há alguns anos, gosto de beber, mas não fico pensando em como perdi tempo não bebendo nem, bebi quando todos me ofereciam ou só havia isso para consumir nas festas, uma vez que eu não bebo refrigerante há uns 18 anos. Da mesma forma, se é que ela não é tão espiritualizada que não tenha necessidade de fazer sexo, ela pode muito bem mudar de idéia dia desses, voltar para o Brasil e “namorar” regularmente. Na infância, por exemplo, fui vizinho de um ex-padre que se casou com uma colega ex-freira.

Por hora, ela está fazendo o que acha certo, onde ela acredita que precisam mais. Há países piores que o Brasil em se tratando de corrupção e miséria humana. Certamente nossa personagem passará mal por lá, mas já está habituada a viver somente com o básico (que terá por lá) há anos. Ela não surtou: quem tinha dinheiro era a família dela, não ela, e ela nunca foi de festas e namoros. Já era talhada para o negócio.

Sobre gente bonita não poder ser celibatária, convenhamos, a beleza é questão de opinião e nunca impediu ninguém de nada. Digo mais: gente feia faz coisas que teoricamente só gente bonita poderia fazer, como ter diversos filhos, vários namoros, trabalhar na televisão ou ser vocalista de uma banda.

Você é que pode ou não aceitar isso, mas ter ou não dinheiro ou beleza não te impede ou obriga a nada. A família é importantíssima, mas você não pode pautar a sua vida no que os outros querem que você seja ou deixe de ser. Particularmente, não tenho coragem de ser um mártir, mas acho importante que haja gente assim no mundo. Afinal, foi gente assim que conseguiu direitos para pessoas que não têm moral para ir à luta. Gente como eu e você.

Post Scriptum: a freira é Audrey Hepburn  em The Nun's Story (1957).

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