Diabo no
Couro – Parte 7 – Final
Geanderson voltou a si e viu o que havia feito: matara a
mulher mais bonita que vira em toda sua vida!
Na verdade, nem por um momento saíra de si, era mais como
estar num sonho, em que você simplesmente assiste o que está acontecendo.
Quando viu que ela dissipara o olhar terrível que o amedrontara e mostrara uma
ponta de fraqueza, um ódio incrível lhe subiu a ponto de sua visão periférica
ficar negra. Só o alvo, o foco, a mulher estava nítida. E agora morta.
O que fazer agora?
Seu nome e diversos números de documentos de identificação
estavam registrados no hotel. Todos devem tê-lo visto andar acompanhado por
aquela mulher, que é do tipo que faz todos – homens e mulheres – virarem a
cabeça – não podia sair com ela do lado sem que alguém a visse morta. Não podia
fugir. Pra onde iria?
Só queria sua vida de volta.
Não estava desesperado, no entanto. Era mais uma tristeza e
desânimo. Em parte, se entregar aos seus desejos sombrios era muito bom.
Fisicamente, Geanderson se sentia como os homens sentem alguns minutos depois
do orgasmo.
Estava muito escuro. Ele bloqueou todas as janelas e apagou o
abajur, única fonte de luz. As trevas o fagocitaram, mas de alguma forma podia
sentir a posição de tudo no quarto. Pegou uma cadeira de madeira, pôs bem no
meio do quarto e sentou. Deixou os olhos se acostumarem com a ausência de luz
enquanto os fixava numa poltrona bem à sua frente, até que a viu.
A coisa que o perseguia nunca esteve tão bonita. Ainda era
uma criatura sombria, mas não o assustava mais. Agora parecia a sombra de uma
jovem mulher com diversos detalhes mais humanos. Os olhos não eram mais pontos
brancos vazios e seus dentes não eram mais reptilianos. Nem se viam mais seus
dentes. Ela estava sentada numa posição casual e sua expressão não era mais a
máscara arrepiante do sadismo. De algum modo, ela queria lhe agradar com um
aspecto muito mais suave, mas a expressão era outra.
Parecia gratidão.
“O que você quer de mim?” perguntou com um misto de angústia,
raiva e desespero. Ela deu um sorriso gostoso. Parecia sentir prazer com emoções
fortes e de repente ele entendeu, como se os olhos dela lhe dissessem o que
queria saber. Ela queria tudo, que ele se acabasse com uma vida louca que o
consumiria, que lutasse pra viver e vivesse lutando, que não se conformasse e
que não o deixassem pegar. Queria que ele fodesse com tudo e todos, matasse e
roubasse conforme a razão. Que toda a droga do mundo fluísse pelo seu corpo
destruindo e dando prazer máximo no mesmo momento. Gratificação instantânea,
inconsequente e irresponsável, como alguém que saiu do Inferno e sabe que tem
pouco tempo antes que o mundo acabe, acabando com o abrigo terreno e devolvendo
todos à danação eterna.
Como ela.
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