terça-feira, 5 de agosto de 2014




Diabo no Couro – Parte 7 Final

Geanderson voltou a si e viu o que havia feito: matara a mulher mais bonita que vira em toda sua vida!

Na verdade, nem por um momento saíra de si, era mais como estar num sonho, em que você simplesmente assiste o que está acontecendo. Quando viu que ela dissipara o olhar terrível que o amedrontara e mostrara uma ponta de fraqueza, um ódio incrível lhe subiu a ponto de sua visão periférica ficar negra. Só o alvo, o foco, a mulher estava nítida. E agora morta.

O que fazer agora?

Seu nome e diversos números de documentos de identificação estavam registrados no hotel. Todos devem tê-lo visto andar acompanhado por aquela mulher, que é do tipo que faz todos – homens e mulheres – virarem a cabeça – não podia sair com ela do lado sem que alguém a visse morta. Não podia fugir. Pra onde iria?

Só queria sua vida de volta.

Não estava desesperado, no entanto. Era mais uma tristeza e desânimo. Em parte, se entregar aos seus desejos sombrios era muito bom. Fisicamente, Geanderson se sentia como os homens sentem alguns minutos depois do orgasmo.

Estava muito escuro. Ele bloqueou todas as janelas e apagou o abajur, única fonte de luz. As trevas o fagocitaram, mas de alguma forma podia sentir a posição de tudo no quarto. Pegou uma cadeira de madeira, pôs bem no meio do quarto e sentou. Deixou os olhos se acostumarem com a ausência de luz enquanto os fixava numa poltrona bem à sua frente, até que a viu.

A coisa que o perseguia nunca esteve tão bonita. Ainda era uma criatura sombria, mas não o assustava mais. Agora parecia a sombra de uma jovem mulher com diversos detalhes mais humanos. Os olhos não eram mais pontos brancos vazios e seus dentes não eram mais reptilianos. Nem se viam mais seus dentes. Ela estava sentada numa posição casual e sua expressão não era mais a máscara arrepiante do sadismo. De algum modo, ela queria lhe agradar com um aspecto muito mais suave, mas a expressão era outra.

Parecia gratidão.

“O que você quer de mim?” perguntou com um misto de angústia, raiva e desespero. Ela deu um sorriso gostoso. Parecia sentir prazer com emoções fortes e de repente ele entendeu, como se os olhos dela lhe dissessem o que queria saber. Ela queria tudo, que ele se acabasse com uma vida louca que o consumiria, que lutasse pra viver e vivesse lutando, que não se conformasse e que não o deixassem pegar. Queria que ele fodesse com tudo e todos, matasse e roubasse conforme a razão. Que toda a droga do mundo fluísse pelo seu corpo destruindo e dando prazer máximo no mesmo momento. Gratificação instantânea, inconsequente e irresponsável, como alguém que saiu do Inferno e sabe que tem pouco tempo antes que o mundo acabe, acabando com o abrigo terreno e devolvendo todos à danação eterna.

Como ela.

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