segunda-feira, 19 de dezembro de 2011



Todo mundo, mesmo os que não gostam, já assistiu a um filme de terror. Temos vários tipos de filme de terror e chamá-los simplesmente de filme de terror é muito simplificante.

É como “Filme de Ação”. Se você quiser, posso dar vários tipos de filmes – artes marciais, policial, fantasia e até ficção científica – que chamam simplesmente de “Filme de Ação”.

Eu gosto de filmes de terror, mas não de todo e qualquer filme de terror. Os filmes de terror bons, pra mim, são aqueles que te fazem pensar no assunto antes de dormir (ou olhar embaixo da cama, se você for desses). É daqueles filmes que te fazem pensar no improvável como possível e é isso que te deixa assustado. Aqueles que te fazem descobrir do que o ser humano é capaz em situações desesperadoras é que valem a pena. Aqueles com o horror acachapante, que se não vai te pegar agora vai fazê-lo cedo ou tarde. O tipo de filme que faz você tomar decisões do tipo “se fosse EU não aconteceria assim”. Filmes que mostram situações em que nem mesmo a morte vai te libertar da dor e desespero.

Enfim, filme bom é aquele que te deixa com a pulga atrás da orelha e te faz querer se preparar de antemão para o inominável por vir.

É por causa desse tipo de pensamento mórbido que eu gosto de filmes como A Névoa. Lá você tem gente boa presa com gente detestável, gente querendo matar gente, mas que são forçados a cooperar porque a alternativa é enfrentar o que está lá fora... que é invencível, mais numeroso, te cercou e que quer te comer!

E é por isso que eu gosto de filmes de mortos-vivos.

Veja: sempre faço distinção de morto-vivo para zumbi porque zumbi pode ser um humano sem mente ou vontade própria. Também não gosto muito de morto-vivo porque vampiros também são mortos-vivos, mas você entende bem o porquê da escolha. Não há um nome específico para um cadáver ambulante, que se alimenta de carne humana sem necessidade de se alimentar e que não tem super-força, poder de se mudar de forma, hipnotiza vítimas, essas coisas. Na verdade, nas lendas antigas os vampiros eram mais como os mortos-vivos que eu gosto, mas já falei disso por aqui.

Que perguntas um filme de mortos-vivos te leva a se questionar? Bem, se o filme é bom, como os do modelo clássico do George Romero, o mais básico é que os mortos e sua fome de consumir algo de que nem precisam em primeiro lugar é uma alusão ao sistema capitalista. E não sou só eu que estou dizendo isso... Os mortos querem consumir algo supérfluo, sem se importar com seus corpos, sua condição, com a destruição de outras culturas, ou mesmo se o mundo vai acabar. Fazem isso tudo sem nem ao menos pensar nessas e outras questões, exatamente igual ao cidadão médio que mora num lugar de capitalismo selvagem. E você, que não é assim, vai vendo seu mundo ser destruído, sua cultura apagada e mesmo seus amigos se transformando em mais algumas dessas coisas, ciente de que o mundo não tem mais conserto, e vai vivendo como pode, esperando não chamar atenção para não ser consumido.

E aí, já havia pensado nisso?

É por isso que eu não gosto muito de filmes do tipo “Slasher”. Um slasher é um monstro que não morre de uma vez, mas fica voltando e matando, como Jason, Freddy Krueger e afins. Há filmes ainda que são com assassinos que agem parecido com slashers e que têm infinitas continuações, como Pânico (I, II, III...) e Eu Sei O Que Vocês Fizeram No Verão Passado (e Eu Ainda Sei O Que Vocês Fizeram No Verão Passado, além de Eu Sempre Vou Saber O Que Vocês Fizeram No Verão Passado). Esses filmes, além de não te fazer pensar, têm todos a mesma história: assassino aparece, mata um, dois, os adultos e a polícia se mobilizam, mas quem resolve é um ou mais garotos intrometidos, como no Scooby Doo.

Claro que há outras coisas em filmes de terror que compõe a obra muito bem, tais como humor negro e uma sub-trama consistente. Tudo isso e muito mais você encontra num filme como O Candidato Maldito, A Noite dos Mortos-Vivos e Os Mortos-Vivos. Cada um é de um diretor diferente e têm histórias radicalmente diferentes, com mortos-vivos radicalmente diferentes.

É por essas e outras que eu quero mestrar All Flesh Must Be Eaten aos sábados, porque mortos-vivos são para te fazer pensar!

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