quinta-feira, 4 de novembro de 2010




Aqui você tem a segunda parte do parto da Mariana. A maior parte foi escrita pelos minha Bonitona, mas há uns comentários meus inclusos no final.


Eu mal conseguia andar, deitar então nem pensar! As contrações não davam tempo, depois de muito esforço, esperei uma contração passar e deitei ao olhar impaciente daquela médica como quem dizia “deita logo, porra!”, mandou eu abrir as pernas e me deu um toque horroroso, cheguei a ver sangue na luva dela. Então, ela me disse que eu já estava com 7 para 8 cm e pediu a enfermeira que me aplicasse a ocitocina para acelerar (ainda mais) o trabalho de parto e a bebê nascer antes de meia noite.

Me recordei que no nascimento da minha primeira filha, essa ocitocina não fez efeito de início, passei uma tarde inteira tomando essa medicação com soro e não sentia dor alguma, somente depois que me aplicaram um segundo soro sem medicação é que fui sentir as dores. Constatei que é verdade quando dizem que nenhuma gestação é igual a outra.

Eram mais de 22h30 quando me aplicaram a medicação e desta vez foi diferente, o efeito do medicamento foi imediato. Já haviam passado 5 anos desde o primeiro parto e não me lembrava do quanto doía. Com o medicamento, eu já delirava de tanta dor, não conseguia controlar o tremor das mãos, gemia mais ainda, provavelmente minha pressão subiu, ela foi verificada mas não me atentei para saber quanto estava, teve um momento em que já não agüentando mais, pedi para a enfermeira chamar algum médico e disse que queria ser cortada, eu estava já fora de mim e queria de alguma maneira me livrar logo daquele sofrimento.

Para aquelas pessoas que sempre fazem aquela pergunta: “E ai dói muito?”, sou meio intolerante ao responder “não, faz cócegas, não agüentava de tanto rir”. Para esclarecer um pouco mais a intensidade da dor vou dizer a resposta que uma tia minha deu ao filho quando indagada sobre a sensação de ter um filho. Ela disse: “Filho da puta, enfia um coco no teu cu e depois faz força para ele sair, é essa a sensação de ter um filho”. É tia Mônica, pela segunda vez a senhora tem razão. Nunca se deve perguntar a uma mulher que teve parto normal se dói muito.

A enfermeira chamou a médica, ao ver a minha angustia, eu estava em pé perto da cama, a cada contração que já estava praticamente de minuto em minuto, eu fazia aquela força instintiva, de repente comecei a sangrar. A médica chegou, eu disse que não agüentava mais e ela me respondeu “aguenta sim, agüentou a primeira vez que foi mais difícil, agora será mais fácil” e pediu que eu deitasse para ser examinada, que porra, eu já estava quase parindo!! Eu não consegui, tive outra contração e senti a cabeça da bebê querendo sair e disse “ela vai nascer aqui!”. Ouvi a médica perguntar de alguém se a sala de parto já estava pronta, pediu uma cadeira de rodas, quando a cadeira chegou, eu sentei e a enfermeira me levou para a sala de parto.

Ao sair da sala em que estava, a grávida de 8 meses que estava num outro leito, ouvindo os meus gemidos me desejou boa sorte, eu agradeci e saímos da sala. Eu tremia bastante, a enfermeira tentava me acalmar. A sala de parto não era longe dali, mas tivemos que esperar alguém abrir uma porta que dava acesso as salas de cirurgia. Quando entrei na sala, havia dois enfermeiros, um homem e uma mulher. O médico ainda não estava na sala. A enfermeira pediu que eu deitasse naquela cama horrorosa, tive mais uma ou duas contrações, fiquei com as pernas abertas mas me controlando ainda pois tive que esperar o médico se preparar, vestir a roupa e colocar as luvas, eu pedia ajuda dos enfermeiros, enquanto isso me faziam perguntas, como meu nome, qual era o sexo do bebê, minha idade, etc.

Quando finalmente o médico estava pronto, a propósito foi o mesmo médico que me reavaliou e me internou, a enfermeira me disse pra fazer força pra baixo na próxima contração. Eu já sabendo como fazer, procurei ao lado da cama um lugar ou algo em que eu pudesse segurar para ajudar a fazer força, levantei um pouco a cabeça encostando o queixo no peito, quando veio a contração, respirei fundo e fiz bastante força, senti que a cabeça dela estava saindo, a bolsa estourou neste momento, continuei fazendo força até que ela saiu e foi rápido. Senti aquele alívio da dor após o seu nascimento. Sempre brinco com as amigas dizendo que ter filho de parto normal é igual perder a virgindade, dói só quando passa a cabeça, depois é graça.

As imagens na minha mente deste momento não me parecem muito nítidas pois, fechei os olhos, tenho as sensações e é como se fosse um sonho. Quando abri os olhos, o médico já estava segurando ela e cortando o cordão. Ela foi colocada sobre a minha barriga, eu vi o seu corpinho todo sujinho e estava quentinho, vi seu rostinho todo inchado, falei com ela. Ouvi alguém dizendo para segurá-la para não cair, coloquei as mãos nela, achei que ela era menor do que eu imaginava já que minha barriga estava bem grande, em seguida a enfermeira a segurou para aguardar o pediatra que ainda não havia aparecido para examiná-la.

Não me lembro muito bem do seu choro na hora em que nasceu, fui reparar nele depois que o pediatra chegou e a levou para outra sala para fazer o teste de apgar. Ouvia de longe o seu chorinho. Enquanto isso, o médico retirava de mim a placenta, que é um troço enorme, parece um segundo bebê Nesse mesmo instante eu agradecia a Deus em voz alta, disse inúmeras vezes “Obrigado Senhor, obrigado Senhor”. Ao terminar, o médico me parabenizou e foi embora.

Eu perguntava o tempo todo dos enfermeiros se ela estava bem, quando iriam trazê-la pra mim, o enfermeiro que estava lá, finalizou a limpeza que o médico fizera em mim, me colocou compressa e absorvente. Pegaram a minha impressão do polegar direito e alguns dados, um outro enfermeiro, levou a Mariana até mim, disse que ela nasceu com 50 cm e 3,300 g, eu olhei pra ela que já estava com os olhos bem abertos, dei um cheirinho, falei com ela e em seguida ela foi levada para o berçário.

Fiquei um tempo com a enfermeira na sala de parto. Ela fazia ligações para verificar se havia leito disponível, porém não havia, a maternidade estava lotada naquele sábado. Ela me levou para outra sala, no mesmo corredor das salas de cirurgia, sala essa que foi improvisada pela maternidade para acomodar mais pessoas.

Mais um absurdo, a maternidade da Unimed, uma porra que a gente paga, não tinha leito suficiente sem contar que nem pude ficar com a bebê comigo aquela noite, lembro que na maternidade PÚBLICA, em que tive a Maria, me levaram para o leito junto com ela, passei a noite com ela. Desta vez fiquei sozinha, nem visitas pude receber. Porém, a enfermeira que acompanhou o meu parto, foi um anjo enviado por Deus e me deixou ver a minha mãe por 5 minutos. Eu fiquei incomodada, chateada, com medo, pensava mil coisas porque não podia ficar com a Mariana naquelas primeiras horas, nem direito a acompanhante eu tive.

Senti falta do meu marido, não sabia como estavam as coisas lá fora*, não sabia ao menos se ele já tinha visto a bebê. No caminho para a sala onde eu estava, a enfermeira levou a mamãe até o berçário e mostrou a Mariana pra ela. Quando eu estava conversando com a mamãe, eu chorei e falei das minhas preocupações. O meu maior medo sempre foi o de alguém roubar meu bebê. A mamãe tentou me acalmar e disse que ela era bonitinha, eu achava que ela tinha carinha de joelho, aliás parecia bastante com o meu que estava bem inchado, mas tudo bem avó coruja é assim mesmo.

Mamãe foi embora e eu fiquei sozinha novamente e não bastasse a dor do parto, continuei sentido dores, era meu útero ainda se contraindo, além disso, sentia o sangue escorrendo entre as pernas. O enfermeiro que também estava na sala de parto apareceu, eu disse que estava com dor e ele me medicou com dipirona, porém depois de um tempo, a dor não havia passado. Vez em quando aparecia a enfermeira Rosana (acho que era esse o nome dela), voltei a dizer que sentia dores. Ela pegou na minha barriga e eu senti do lado direito, parecia um caroço de abacate, era o meu útero disse a enfermeira. Então ela começou a empurrá-lo para o meio da barriga e depois para baixo e ao fazer isso, os coágulos de sangue saiam de mim e inundavam os absorventes que me protegiam. Houve uma melhora considerável depois que ela fez isso, fui medicada novamente e a enfermeira me dizia sempre pra tentar dormir e descansar.

Fiquei acordada o resto da noite inteira, a Mariana nasceu às 23h30 e depois disso não dormi nada. Senti sede e a enfermeira me deu um copo com água, continuei sentindo dores, fiquei pensando na minha bebezinha, até fome eu senti pois já havia passado mais de 12 horas desde a última refeição que fiz, e assim fui rezando para que aquela noite passasse logo. Queria levantar, comer, tomar banho, ficar com a minha filha. Por algumas vezes olhei a minha barriga vazia e senti falta dela dentro de mim.

Via o movimento dos enfermeiros por ali, perguntei as horas por várias vezes, eu olhava para a enfermeira que me ajudou e que tirava um cochilo. As dores não me deixavam relaxar, sentia o sangue ainda escorrendo, revia na memória o nascimento da Mariana até aquele momento e isso durou até o amanhecer.

Já eram quase 5h quando chegou outra mãe que acabara de dar a luz, parto normal também, mas seu bebê era um menino. Antes dela ser levada para a sala onde eu estava,escutei o choro de um bebê e logo em seguida ela apareceu por lá. Ela parecia ser mais jovem do que eu e era o seu primeiro bebê, mulher corajosa também. Acabamos conversando, trocamos nossas experiências, foi bom conversar com alguém naquele momento, alguém que acabara de passar pelo que eu passei, tínhamos algo em comum. Em algum momento a enfermeira nos chamou a atenção pois estávamos falando demais e deveríamos descansar, colocou até uma divisória bloqueando a visão uma da outra, mesmo assim, continuamos conversando um tempo e depois ficamos em silêncio.


* Minha mulher me pediu para escrever aqui o que aconteceu do lado de fora durante a primeira noite e o primeiro dia.

O maior problema era a espera sem notícias e sem prazo para acabar. Não sei quem inventou que a gente prefere ver propagandas do que uma programação normal e criaram uma TV só com porcaria passando. É assim nos PACs de Manaus também.

Depois da meia-noite, minha sogra voltou dizendo que havia visto a minha filha e que ela era fofinha. Recebi permissão de vê-la e fui até lá.

Ela era muito tranqüila, mas não e não entendi porquê a bebê não estava com a mãe. Entendi menos ainda porquê ela ainda não havia mamado e fiquei meio revoltado quando soube que só mamaria pela manhã. Depois comecei a tirar fotos logo depois de a enfermeira receber as roupas e segui tirando fotos enquanto esta trocava a Mariana. Filmei um pouco também.

Conversei com a enfermeira e lhe disse que esta era nossa última bebê, uma vez que já tínhamos filhos o bastante e que ela ainda representava a união das duas famílias. Além disso, Mariana era a única menina de sua geração na minha família e que só eu, da minha geração dentro da família, havia gerado descendentes. Por isso, ela era muito aguardada e querida.

Me disseram que a Nill não sairia naquele dia e aí eu fui pra casa com a minha sogra, que não havia ônibus para Cidade Nova. Foi horrível dormir sozinho no quarto.

No dia seguinte fui cedo pra lá, pois ela me ligou dizendo que recebia alta, mas com o passar das horas, e eu incomodando todos atrás de respostas, descobri que ela – a Mariana - só receberia a alta no dia seguinte. Foi pior ainda dormir sozinho e sem ninguém na casa.

A única coisa boa foi usar aquelas máquinas de snack food e outra de café. Me senti roubado na de café, mas foi legal usar as duas.

3 comentários:

Alessandra disse...

Olá, linda história...

Eduardo Oliveira disse...

tem uns trechos bem nojentinhos, mas tá superinteressante e divertido de ler. abs, ricardo, mantem a ordem na tua tropa aí!

Unknown disse...

Ufa, que relato!

Penso que um dia a Córa e eu passaremos por isso...
É bom que eu esteja inteirado do assunto.

Felicidades pra todos vocês.