terça-feira, 29 de junho de 2010




Irmão Rômulo foi casar sábado 12, Dia dos Namorados, em Santaré, Pará. Seria a primeira vez que viajei com a minha mulher e estava com grandes expectativas. Era um evento social, casamento do meu irmão mais novo, passeio com a minha Bonitona, encontro com novos amigos e muito mais.

Além disso, iria conhecer a cidade, ser padrinho dos noivos, compraria lembranças, final de semana diferente, comidas diferentes, banho de outro rio, o Tapajós.

Estamos lisos, a Nilsandra e eu, mas vale a pena viajar pra lá por tudo isso. Além do quê, casamento assim, provavelmente só veremos dessa vez, já que o Irmão Rafael não pensa em se casar e eu já estou casado. Como alguns amigos sabem, sou deísta e a minha mulher é espírita, e como nenhuma das duas crenças têm ritos para casamento, batizado ou funeral...

Há muito tempo que vemos os dois juntos. Acompanhamos do namoro ao chá de panela. Queríamos ver o casamento e curtir com as famílias unidas, um lance legal e inesquecível, daqueles que as fotos jamais farão jus. Mesmo assim, na semana que se seguiria, quando eu retornasse da viagem, pensava em escrever meus pareceres, tais como o gosto que tem os pratos regionais, como é o povo, que tal o clima e outros mais. Contar alguns dos causos e, claro, publicar algumas fotos.

O que aconteceu foi que eu fui mesmo e foi tudo mais legal do que eu posso descrever, mas o ritmo mais devagar daquela cidade, aliado à vontade de fazer porra nenhuma que me acompanha após todo período de férias não me deixou publicar quase nada.

Mas aqui estamos para falar como foi.

Compramos a passagem em cima da hora, faltando alguns dias e pagamos quase que mil reais por isso. Viajamos de TAM, que parece ter um espaço interno melhor que o da GOL, por exemplo. A Bonitona, que está grávida e grande, disse que é assim, então deve ser mesmo. Ela conhece bem o tamanho dos acentos na concorrência, e isso que o “nosso” avião era dos pequenos. A viagem durou mais ou menos uma hora, mas como há fuso-horário saímos de Manaus às quatro e chegamos às seis. A comida é um pouco melhor também.

O aeroporto de Santarém é pequeno e a gente desce por uma escada, não por aquele tipo de tubo que há por aqui. Uma comissária de bordo que leva a gente. A despeito de qualquer coisa já me sentia bem: o clima era o que estou acostumado em casa: quente. O povo é legal e sorri pra você quando fala contigo. Um dado legal é que o aeroporto é meio afastado da cidade e quando estamos para pousar parece que você vai descer na mata. Só vemos o aeroporto quando já estamos próximos ao solo.

Na saída do aeroporto fomos recebidos por irmãos da noiva e depois de cumprimentos, abraços rasgação de seda e tal e coisa, fomos levados para a casa de uma deles, o Anselmo, que meio que deu a casa para a gente morar no tempo que passaríamos lá. A casa era boa e confortável, com dois quartos, sendo que num deles estavam já o Irmão Rafael e a Mamma dormindo. Demos oi pra eles e fizemos de conta que dormimos entre as seis e trinta e as nove horas.

Às dez vieram buscas a gente, depois de um rápido café da manhã. O Irmão Rafael havia feito provisões. Fomos visitar mais gente na casa dos pais da noiva. Apertamos mãos já conhecidas de gente que há tempos não víamos e de gente inédita também. No almoço provamos um peixe gostoso que o sogro do Irmão Rômulo disse ter gosto diferente lá. Explico: o mesmo peixe, no Amazonas, em águas diferentes, tem um gosto diferente. Aqui não é gostoso, mas lá é bom e tem uma textura diferente de tudo o que já provei. Trata-se do mapará.

Por ser uma cidade mais simples, há por lá um costume que não é incomum em muitos lugares do Amazonas, que é dormir depois do almoço, mesmo nos dias úteis da semana. O povo lá já monta suas casas pensando no esquema das redes. Em Roma, faça como os romanos: depois de comermos, todos deitamos em redes e havia por lá umas dez.

Outra coisa interessante é que os parentes da Nailza são amigos de um certo Frei Leão que é marceneiro amador e que fez uma espécie de banco-balanço de dois lugares que era muito bom e forte. Quase que todas as casas que visitamos tinham ao menos um exemplar desse banco.

O casamento seria em algumas horas, então retornamos à casa, tomamos banho e nos arrumamos para visitar um hotel aonde os noivos se hospedariam pela noite e em cuja sala de eventos se daria a recepção pós casamento. Eu e os Irmãos comemos, mas a Mamma e a Bonitona, que foram arrumar unhas ou coisa assim não tiveram essa oportunidade, daí, fizemos sanduíches pra elas e nos mandamos.

Foi muito legal ficarmos reunidos antes do casamento, eu e os Irmãos. Conversamos e bagunçamos como bons irmãos o fazem. Mais perto da hora ritual, vinte horas, fizemos a barba e tomamos outro banho, mas Mamma e a Bonitona não chegavam nunca e ainda iriam se aprontar. Chegaram tarde mesmo e ficamos sabendo que a Mamma havia esquecido algo que teve de ir buscar na casa de alguém. A Nilsandra mal pôde comer e por isso ficou passando mal durante a cerimônia depois disso. O quarto tinha acomodações legais para setenta e cinco reais a diária e como usamos água quente no banho o espelho ficou embaçado e quase que eu arruinei a minha barba com um trabalho meio às escuras.

A cidade tem um trânsito tranqüilo, com muitas motos nas ruas. Lá, no entanto, aos motos não servem para cortar velozmente os outros carros ou costurar no trânsito, fazem mais parte da predileção do povo de lá, que prefere o mais barato e funcional. Chamou a atenção no trajeto até a igreja em como os motociclistas se mantinham em suas faixas e praticamente não faziam ultrapassagens, se comparados aos motociclistas de outras cidades.

O casamento teve um pequeno atraso porque o cara do som esqueceu as músicas em casa. Cara, como é que um cara sai para uma festa para cuidar do som e faz isso?

Outra coisa interessante é que estávamos em época de festas juninas, logo, um pessoal ensaiava quadrilha para uma dessas festas ao lado da igreja e como não estávamos com som rolando, ouvíamos coisas como ANARRIÊ e OLHA A COBRAAAAA vez em quando.

O casamento rolou sem maiores incidentes e foi muito legal. Não tenho religião, mas isso não me impede de apreciar o que é bonito. Fui padrinho e por isso fiquei em um local privilegiado ao lado do altar. Foi a terceira vez que fui chamado para ser padrinho de casamento. Aceitei em todas as ocasiões, mas neste casamento me diverti muito mais. Era o Irmão Rômulo quem estava lá, porra! Sei que o casamento é a festa da noiva e que a Nailza estava legal, mas eu olhava era para meu Irmão, além de verificar se a Bonitona não desmaiava devido ao calor e a falta de alimentação. Ela estava grávida de seis meses.

Dali fomos para a recepção, para a festa. Foi muito legal, rolou cerveja, vinho e uísque, que eu não tomei. Detesto uísque, puro ou com gelo. Os salgadinhos, bem como os doces, estavam fabulosos e os convidados estavam muito empolgados. Irmão Rômulo e Nailza chegaram um pouco depois para fazer um efeito dramático. Entraram mesmo com uma música especial. Parece assim que tudo o que o noivo conhecia de propaganda foi utilizado ali.

Teve de tudo: dança dos noivos, danças juninas, declarações ao microfone, gente passando mal com excessos de comida... até os garçons pareciam estar se divertindo.

Fomos de carona para casa e dormi com a Bonitona em um quarto diferente, deixando a Mamma e o Irmão Rafael em um outro quarto.

No almoço fomos à casa dos pais da agora mulher do Irmão Rômulo, Nailza, e almoçamos por lá. Depois da sesta, fomos visitar a casa do Frei Leão, que eu havia conhecido no casamento. A casa era mais um sítio, com coisas como criação de animais que incluía até mesmo abelhas de subespécies diferentes. Uma coisa levava à outra lá; as abelhas precisavam de flores e daí se viam várias plantas com esse propósito por lá, o que embelezava o ambiente, além de frutíferas para o consumo doméstico e para pequenos negócios. Víamos locais para a secagem de pimenta ao Sol e já que a casa era de frente para o Tapajós, havia uma malhadeira para pegar peixes também.

Subimos ao segundo piso da casa, que era parte alvenaria, parte madeira. Adoro casas assim, mas os móveis feitos à mão pelo Frei Leão deixavam tudo muito mais legal. Foi lá, na varanda, com o vento que vinha do rio no rosto, sentados num dos famosos banco-balanços, ouvindo o riso das crianças que eu e a Nill decidimos que voltaríamos lá no fim de dois mil e onze com nossos filhos.

Descemos, brincamos na água, comemos, repetimos!

Foi muito legal conversar com a família toda reunida. Contamos causos dos irmãos e, como eles tinham mais irmão, tinha mais causos. Os irmãos mais velhos, como este que vos fala, sempre tem mais pra contar e foi muito legal reacender a velha rivalidade, regados a cerveja e vinho. Foi a primeira vez que eu nadei bêbado e achei muito legal.

Saímos de ônibus de lá. Quantos podem dizer que há um ônibus só para ir buscar o pessoal que vai a sua casa? Com onze irmãos, dois pais, um monte de primos, sobrinhos e a família do noivo, enchemos o ônibus só com conhecidos.

Antes de dormirmos, nos despedimos da Mamma e do Irmão Rafael, que haviam chegado primeiro em Santarém e que retornavam a Manaus antes de nós, naquela mesma madrugada.

Dormimos muito bem, eu e a Nilsandra. Tanto que no dia seguinte levantamos sem a necessidade de qualquer despertador e demos nossa pequena contribuição à casa, bem dispostos que estávamos. Arrumamos um pouco a casa do anfitrião, varremos, enchemos garrafas de água, essas coisas. Aquele seria nosso último dia por lá e estávamos dispostos a aproveitar legal.

No dia seguinte visitaríamos Alter do Chão, espécie de ponto obrigatório para os turistas. Trata-se de uma grande extensão de praias com bares fincados na areia. Pagamos apenas dez reais para que uma cara em uma canoa motorizada nos levasse ao outro lado, mais sossegado, e onde poderíamos curtir melhor. Nesse local havia pouquíssimas pessoas e logo só restaram nós na praia, além de um barco ancorado próximo, com dois casais de hippies com duas crianças. Lá comemos iscas de pirarucu, batatas fritas e bolinho de piracuí, outro peixe que eu jamais havia provado. De longe, o bolinho era o melhor, não só porque o pirarucu estivesse salgado demais, mas porque o modo de preparo do bolinho era especial: ao invés de fazer do peixe o recheio, a massa era misturada ao peixe e então tudo era frito junto, com temperos e tudo o mais. Bebemos cerveja, menos a Nill que ficou no refrigerante.

Ficamos lá até enjoar. Voltamos pra casa dos mais da Nailza e de lá fomos pra orla, que é muito bonita, mais que a nossa Ponta Negra, até porque os bares de lá não põe música alta tentando combater a música do bar visinho. Os barcos ficam ancorados ao longo da orla, o que é muito legal também, menos num lugar em que o povo vai para pescar à noite, um tipo de píer, aonde comemos pizza ao som baixo do rio Tapajós. Esvata tudo tão tranqüilo que nos esquecemos da hora da partida do avião. Fomos lembrados pelo Irmão Rômulo que viajaria na mesma aeronave que nós.

Tiramos mais algumas fotos, passamos em dois lugares para pegar coisas e fomos ao aeroporto. A Bonitona entrou primeiro na nave por estar grávida e eu guardei de lembrança do avião duas espátulas para passar manteiga em casa. Já embarcamos com saudades de lá e tivemos a oportunidade de dizer um pro outro “eu te amo” a trocentos mil pés de altura.

Enfim: foi do caralho! Vá para Santarém você também!

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